Terruá Pará
Terruá Pará é um projeto e movimento musical brasileiro originário do estado do Pará, focado na promoção e internacionalização da música contemporânea produzida na região. O nome é um neologismo que funde a palavra francesa terroir (termo usado para demarcar um território com características culturais únicas) com a palavra "terra", referindo-se ao "terreno" musical paraense.[1]
O projeto funciona como uma grande vitrine, unindo artistas consagrados e da nova geração, abrangendo gêneros diversos como Guitarrada, Tecnobrega, Carimbó, Lundu, Brega e Cúmbia amazônica.[2]
História e edições notáveis
[editar | editar código]O projeto "Terruá Pará" foi idealizado pelo produtor musical Carlos Eduardo Miranda (com apoio de outros produtores como Cyz Zamorano) e teve sua primeira grande apresentação em 2006, em São Paulo, com patrocínio da Petrobras. O objetivo inicial era quebrar o eixo cultural Rio-São Paulo e apresentar a diversidade sonora da Amazônia para o restante do Brasil e para o mercado internacional.[3]
Edição Sesc Pompeia (2014)
[editar | editar código]Uma das edições de maior repercussão do projeto ocorreu em 2014, no Sesc Pompeia, em São Paulo. Sob a direção musical de Carlos Eduardo Miranda e Pena Schmidt, o espetáculo reuniu mais de 40 artistas no palco, incluindo nomes consagrados e novos expoentes.
A apresentação de 2014 é considerada um marco por consolidar a "nova música paraense" e foi registrada em CD e DVD, servindo como um documento histórico da diversidade do movimento.
Festival Se Rasgum
[editar | editar código]O Terruá Pará também estabeleceu uma forte parceria com o Festival Se Rasgum, um dos principais festivais de música independente do Brasil, realizado em Belém. O projeto frequentemente participa da curadoria e apresenta seus artistas nas noites do festival, fortalecendo a cena local.
Legado do movimento
[editar | editar código]O Terruá Pará funciona como um projeto coletivo e um festival, o que significa que a cada edição diferentes artistas são convidados, funcionando como uma "plataforma giratória" da música paraense. O legado do movimento é, portanto, a criação de um "coletivo" que deu visibilidade nacional a músicos que antes eram restritos ao circuito de Belém.
O movimento foi crucial para a carreira nacional de artistas como Gaby Amarantos, que alcançou grande visibilidade após sua participação, e para apresentar a "nova geração" (como Jaloo e Felipe Cordeiro) ao lado de "mestres" históricos, como Dona Onete e Mestre Vieira, legitimando ambos os cenários.[2] O formato de "coletivo", dirigido por Carlos Eduardo Miranda, influenciou outros festivais e selos independentes no Brasil.[4]
Participações
[editar | editar código]O projeto é marcado pela rotatividade e encontro de gerações de artistas paraenses.
Edição de 2012
[editar | editar código]Na edição de 2012, participaram do Terruá Pará:[5]
- Sebastião Tapajós
- Trio Manari
- Orquestra de Violoncelistas da Amazônia
- Paulo André Barata
- Pio Lobato
- Dona Onete
- Toni Soares
- Luê Soares
- Almirzinho Gabriel
- Felipe Cordeiro
- Manoel Cordeiro
- Nilson Chaves
- Lia Sophia
- Mestre Solano
- Mestre Curica
- Manezinho do Sax
- Pantoja
- Aldo Sena
- Gang do Eletro
- Mestre Laurentino
- Edilson Morenno
- Gaby Amarantos
Edição de 2013
[editar | editar código]Em 2013, 12 artistas foram selecionados para participar do evento:[6]
- Zebrabeat Afro-Amazônica Orquestra
- Natália Matos
- Enquadro
- Manoel Cordeiro
- Camila Honda
- Jaloo
- Adamor do Bandolim
- Pim
- Mestre Damasceno
- Arthur Espíndola
- Rafael Lima
- Strobo
Análise musical e gêneros
[editar | editar código]O Terruá Pará é notável por sua capacidade de fundir a música tradicional paraense com estéticas contemporâneas, servindo como uma plataforma de modernização dos ritmos amazônicos. O projeto não foca em um único gênero, mas na intersecção deles.[1]
Guitarrada e a modernização da tradição
[editar | editar código]Um dos pilares do projeto é a valorização da Guitarrada, gênero instrumental paraense. A inclusão de Mestre Vieira, considerado o criador da Guitarrada, ao lado de músicos mais jovens como Felipe Cordeiro e o grupo Strobo, foi fundamental. O Terruá Pará ajudou a apresentar o gênero a um novo público, misturando as melodias tradicionais da guitarra com batidas eletrônicas e influências do rock.[4]
Tecnobrega e a cena pop
[editar | editar código]O projeto também foi crucial para a legitimação nacional do Tecnobrega. Ao colocar artistas como Gaby Amarantos e a Gang do Eletro no mesmo palco que mestres tradicionais (como Dona Onete e Sebastião Tapajós), o Terruá Pará quebrou preconceitos e apresentou a sofisticação rítmica do tecnobrega e do brega pop para a crítica do Sudeste.[2] A participação de Jaloo, que mistura tecnobrega com música eletrônica experimental, também foi um destaque nas edições, mostrando a faceta mais vanguardista do movimento.[6]
Pilares do movimento: mestres e nova geração
[editar | editar código]Uma das principais características do Terruá Pará, destacada pela crítica, é a sua capacidade de promover o "encontro de gerações" no mesmo palco. O projeto não apenas apresenta novos artistas, mas os legitima ao colocá-los em diálogo direto com os "mestres" históricos da música paraense.[4]
Os mestres
[editar | editar código]O projeto foi fundamental para a redescoberta nacional de figuras como Dona Onete, (considerada a "Diva do Carimbó Chamegado"), que teve sua carreira impulsionada após suas participações no evento, e Mestre Vieira, o criador da Guitarrada. A presença desses artistas históricos serviu como a "raiz" musical do coletivo, garantindo a autenticidade da fusão sonora.[2]
A nova geração
[editar | editar código]Em contraponto aos mestres, o Terruá Pará foi a principal vitrine para a geração que modernizava os ritmos amazônicos. Artistas como Gaby Amarantos e a Gang do Eletro levaram o Tecnobrega (antes restrito a aparelhagens de Belém) para os palcos nacionais. A visibilidade alcançada pela cena, impulsionada por coletivos como o Terruá Pará, levou a Gang do Eletro a se apresentar na cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio 2016, ao lado de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil.[7] Paralelamente, nomes como Jaloo e Felipe Cordeiro foram destacados por misturar as bases tradicionais (como o carimbó e a cúmbia) com a música eletrônica e o pop alternativo, consolidando a "cena" paraense no restante do país.[6]
Recepção crítica
[editar | editar código]O projeto Terruá Pará foi amplamente aclamado pela crítica musical especializada, sendo frequentemente citado como um dos movimentos mais importantes para a "reinvenção" da MPB no século XXI. A revista Rolling Stone destacou a "explosão sonora" e a capacidade do coletivo de unir, no mesmo palco, a tradição da guitarrada de Mestre Vieira com a vanguarda pop do tecnobrega de Jaloo e Gaby Amarantos, sem que a fusão parecesse forçada.[2]
Críticos de veículos como a Gazeta do Povo e o portal Overmundo também ressaltaram a importância do projeto em "quebrar o eixo" cultural Rio-São Paulo. A Gazeta notou que o Terruá Pará ajudou a "colocar o Pará no mapa da música pop nacional",[8] enquanto o Overmundo o definiu como "um som que veio do Norte" e que expôs a "sofisticação rítmica" do Tecnobrega e do brega pop para a crítica do Sudeste, que até então os via com preconceito.[9]
Referências
[editar | editar código]- ↑ a b «Terruá Pará promove encontro de gerações e ritmos no Sesc Pompeia». G1 Pará. 28 de outubro de 2014. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ a b c d e «Terruá Pará reúne 40 artistas paraenses em shows em São Paulo». Rolling Stone Brasil. 28 de outubro de 2014. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ Barbosa, Daniel. «"Terruá Pará" mostra diversidade do Norte do país»
- ↑ a b c «Terruá Pará encerra com encontro de mestres e novatos». Diário do Pará. 30 de outubro de 2014. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ «Terruá Pará 2012 reúne 40 artistas em Belém». G1 Pará. 15 de outubro de 2012. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ a b c «Terruá Pará seleciona 12 artistas para edição de 2013». G1 Pará. 29 de abril de 2013. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ «Abertura das Olimpíadas Rio 2016 terá Anitta, Caetano Veloso e Gilberto Gil». G1. 5 de agosto de 2016. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ «Terruá Pará mostra a força da nova música paraense em SP». Gazeta do Povo. 28 de outubro de 2014. Consultado em 6 de novembro de 2025
- ↑ «Terruá Pará: Um som que veio do Norte». Overmundo. 17 de outubro de 2006. Consultado em 6 de novembro de 2025