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Euzhan Palcy

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Euzhan Palcy

Euzhan Palcy em 2012
Nascimento 13 de janeiro de 1958 (67 anos)
Martinica, Antilhas francesas
Ocupação Diretora, roteirista e produtora cinematográfica
Atividade 1975–presente
Oscares da Academia
Oscar Honorário
2022Prêmio Honorário[1]
César
Melhor Primeiro Filme
1983 - Sugar Cane Alley[2]
Festival de Veneza
Leão de Prata
1983 - Sugar Cane Alley[2][3]
Página oficial http://euzhanpalcy.net/

Euzhan Palcy ([ø.ʒɑ̃ pal.si]; Martinica, 13 de janeiro de 1958) é uma diretora, roteirista e produtora cinematográfica. Seus filmes são conhecidos por explorar temas relacionados a questões raciais, de etnia, gênero e política, com ênfase nos efeitos perpetuados do colonialismo. O primeiro longa-metragem de Palcy, Sugar Cane Alley (1983), cujo título original em francês é 'Rue de cases-Nègres' , recebeu inúmeros prêmios, incluindo o César de Melhor Primeiro Filme[3]. Em 1989, dirigiu Assassinato sob Custódia, cujo título em inglês é A Dry White Season, tornando-se a primeira diretora negra a ter um filme produzido por um grande estúdio de Hollywood, a Metro-Goldwyn-Mayer.[4]

Infância e juventude

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Quando criança, em sua Martinica natal, Euzhan Palcy era apaixonada por cinema. Assistia a filmes de Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Billy Wilder, Orson Welles, Ousmane Sembène, François Truffaut e Costa-Gavras. Também escrevia contos e poemas. Sua sensibilidade artística se desenvolveu através do contato com a realidade da Martinica nos bairros negros e pobres. Pelos filmes norteamericanos, ela percebeu que atores negros sempre interpretavam os papéis mais degradantes e ridículos e isso a chocava e até revoltava constantemente [5] [6].

Foi durante a leitura aprofundada de La Rue Cases-Nègres, o romance de Joseph Zobel que conta a história da Martinica na década de 1930, que a condição dos negros lhe foi revelada. Aos 14 anos, fez do romance seu livro de cabeceira e descobriu uma nova ambição: tornar-se cineasta e levar a voz dos negros às telas [7].

Estudos de cinema

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Aos 17 anos, Euzhan Palcy dirigiu seu primeiro telefilme, La Messagère, para a televisão francesa na Martinica. Em 1975, ela viajou para Paris a conselho de seu pai, que a incentivou a gostar de cinema, mas também ingressar na universidade. Formada pela Faculdade de Letras de Paris (letras e teatro), ela também estudou na École Louis-Lumière e se especializou como diretora de fotografia.

Em Paris, conheceu François Truffaut que se interessou pelo projeto de adaptar o romance Rua Cases-Nègres para o cinema, este apoiou a ideia e ofereceu assessoria técnica, facilitando o relacionamento da jovem diretora com prováveis produtores [8] Dessa forma, em 1983, o filme Rua Cases-Nègres comoveu o público, que descobriu a Martinica do passado e a vida empobrecida das famílias negras que viviam em plantações de cana-de-açúcar. O filme foi um sucesso, ganhou dezessete prêmios internacionais, na França e nos Estados Unidos, onde foi veiculado com o título Sugar Cane Alley [8].

Exemplo de uma rua de cases-nègres na Martinica em 1950.

Depois disso, adaptou A Dry White Season, o romance do escritor sul-africano André Brink, no qual se discute um país dilacerado pelo apartheid e pelo racismo. Em decorrência do sucesso de seu primeiro longa-metragem, ela conseguiu concretizar esse projeto nos Estados Unidos, com Marlon Brando, Zakes Mokae, Donald Sutherland e Susan Sarandon no elenco (Euzhan Palcy é a única diretora de cinema a ter dirigido Marlon Brando). A equipe filmou no Zimbábue e denunciou a segregação racial, enquanto Nelson Mandela ainda estava preso em seu país. Em 1989, ela recebeu o Prêmio Orson Welles de Realização Cinematográfica Especial por este filme [9].

No entanto, Euzhan Palcy observou que na maioria dos filmes americanos e europeus, assim como na produção para televisão, a representação dos negros praticamente não havia mudado, permanecendo degradante ou secundária na maioria dos cenários que lhe são oferecidos. Assim, ela decide retornar à França e representar a si mesma.

Euzhan Palcy, em 2023. Foto de Harald Krichel.

Seu retorno se concretizou com a produção de Siméon, "um conto caribenho fantástico e musical, entre a vida e a morte, no qual o fantasma de um famoso músico, poeta e sedutor é cativo de uma garotinha, Orélie, da qual ele só pode se libertar praticando uma boa ação", explica a diretora [carece de fonte]. A banda Kassav' da Martinica compôs a música do filme para torná-lo uma obra completa e fundamentalmente caribenha. Bruno Coulais compôs a música dramática.

Euzhan Palcy também quis prestar homenagem a Aimé Césaire, a quem considera seu pai espiritual. Em 1994, dedicou-lhe uma série de três documentários, Aimé Césaire, uma Voz para a História, e passou vários meses capturando seu cotidiano para imortalizar sua mensagem.

Posteriormente a cineasta retomou seus projetos nos Estados Unidos. Em janeiro de 1999, a televisão americana exibiu o filme A Luta de Ruby Bridges, um épico histórico que ela dirigiu e coproduziu sobre uma menina de cinco anos que luta para quebrar as barreiras da discriminação racial na década de 1960.

Após essa produção, ela dedicou três anos ao que seria considerado o "primeiro filme de animação negro produzido por um estúdio americano" [carece de fonte], ambientado na África Ocidental em 2000 a.C. No entanto, quando ela estava finalizando seu projeto, a produtora (Fox filmes) perdeu seu estúdio de animação e o interrompeu.

Ela então dirigiu um episódio de The Wonderful World of Disney intitulado Ruby Bridges (1998) e baseado na vida dessa ativista dos norteamericana. Palcy dirigiu o filme televisivo The Killing Yard (2001) baseado nos verdadeiros eventos que cercaram a rebelião na prisão de Attica em 1971.[2] Ela também dirigiu o documentário The Journey of the Dissidents (2005), que conta a história dos homens e mulheres de Martinica e Guadalupe que deixaram suas ilhas entre 1940 e 1943 para lutar ao lado do General de Gaulle durante a Segunda Guerra Mundial, e a minissérie épica-histórica de televisão The Brides of Bourbon Island (2007).

Ao longo de sua carreira, ela explorou vários gêneros, muitas vezes inovando, e sendo a primeira diretora negra a fazê-lo. Em 2004, ela foi distinguida com a Ordem Nacional da Legião de Honra[10] e, em 2011, com a medalha da Ordem Nacional do Mérito, recebida das mãos do presidente francês, Nicolas Sarkozy, no Palácio do Eliseu.[11] Ela se tornou a primeira mulher e a primeira diretora negra a ganhar um prêmio Cesar de Melhor Primeiro Filme e o Leão de Prata do Festival de Cinema de Veneza, ambos por Sugar Cane Alley (1983).[2] Em 2022, ela recebeu o Oscar Honorário por ser "uma cineasta pioneira cujo significado inovador no cinema internacional está cimentado na história do cinema".[1]

Em 2011, o Festival de Cinema de Cannes prestou-lhe homenagem e exibiu uma versão restaurada de Rue Cases-Nègres [12].

Uma escola de ensino fundamental da Martinica e um cinema no departamento de Oise, na França, levam seu nome.

Em 2025 é homenageada durante a 49o. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo recebendo o Prêmio Humanidade, pelos filmes Rue Cases Nègres , Assassinato sob Custódia (A Dry White Season) e Siméon.[13]

Ano Título Diretora Roteirista Produtora Nota
1979 O Madiana Não Não Não Assistente de diretor
1982 The Devil's Workshop Sim Sim Sim Curta-metragem
1982 Bourg-la-folie Não Sim Não
1983 Sugar Cane Alley Sim Sim Não
1984 Dionysos Não Sim Não
1989 Assassinato sob Custódia Sim Sim Não
1992 How Are the Kids? Sim Não Não Documentário; segmento: "Hassane"
1992 Siméon Sim Sim Sim
2009 Zachry Não Não Sim Curta-metragem
2011 Molly Não Não Sim Curta-metragem
Ano Título Diretora Roteirista Produtora Nota
1975 The Messenger Sim Sim Sim Filme televisivo
1994 Aimé Césaire: A Voice for History Sim Sim Sim Série documentária; 3 episódios
1998 The Wonderful World of Disney Sim Não Sim Episódio: "Ruby Bridges"
2001 The Killing Yard Sim Não Não Filme televisivo
2006 Parcours de dissidents Sim Sim Não Documentário televisivo
2007 The Brides of Bourbon Island Sim Sim Não 2 episódios

Referências

  1. a b «THE ACADEMY TO HONOR MICHAEL J. FOX, EUZHAN PALCY, DIANE WARREN AND PETER WEIR WITH OSCARS® AT GOVERNORS AWARDS IN NOVEMBER» (em inglês). Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. 21 de junho de 2022. Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  2. a b c d «ABOUT | Euzhan Palcy | Director, Screenwriter, Producer». euzhan-palcy (em inglês). Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  3. a b «La Céremonie par Année – 1984» (em francês). César. Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  4. «17 Women Who Revolutionized Hollywood» (em inglês). 1 de março de 2016. Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  5. «Grioo.com : Euzhan Palcy, réalisatrice de "Rue Case-Nègres", première partie». www.grioo.com. Consultado em 6 de outubro de 2025 
  6. «2015 – Champs-Élysées Film Festival – Euzhan Palcy» (em francês). Consultado em 6 de outubro de 2025 
  7. TIFF Originals (17 de março de 2021), In Conversation With... Euzhan Palcy | TIFF 2021, consultado em 6 de outubro de 2025 
  8. a b www.moma.org https://www.moma.org/multimedia/video/163/966. Consultado em 6 de outubro de 2025  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  9. «L'édition 2001 de Black Movie célèbre les femmes - Le Temps» (em francês). 31 de março de 2001. ISSN 1423-3967. Consultado em 6 de outubro de 2025 
  10. «Decree of 31 December 2002». Journal officiel de la République française (em francês). Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  11. «Decree of 13 November 2009». Journal officiel de la République française (em francês). Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  12. «Euzhan PALCY». Festival de Cannes (em francês). Consultado em 6 de outubro de 2025 
  13. «49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo». 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Consultado em 6 de outubro de 2025 

Ligações externas

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O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Euzhan Palcy