Ir para o conteúdo

Cardiopteridaceae

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaCardiopteridaceae
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Clado: euasterids II
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Aquifoliales
Família: Cardiopteridaceae
Blume[1]
Géneros
Sinónimos
Hábito de Citronella mucronata (Chile).
Folhagem juvenil de Citronella moorei.
Ramo de Citronella mucronata com frutos.

Cardiopteridaceae é uma família de plantas com flor, da ordem Aquifoliales, que agrupa cerca de 43 espécies repartidas por 6 géneros. A espécies que integram esta família são árvores, arbustos e lianas lenhosas, principalmente dos trópicos, mas com algumas nas regiões temperadas.[2] Apresentam folhas geralmente simples, de filotaxia alterna ou espiralada, sem estípulas. As flores podem ser bissexuadas ou, no caso do género Citronella, unissexuadas.

Descrição

[editar | editar código]

A família Cardiopteridaceae contém 6 géneros, o maior dos quais é Citronella, com 21 espécies. Os outros géneros são muito menores.[3]

Morfologia

[editar | editar código]

As espécies desta família são frequentemente trepadeiras lenhosas ou herbáceas. As espécies do género Citronella são árvores ou arbustos.

Algumas espécies contêm seiva leitosa. Os membros desta família caracterizm-se por serem plantas com filotaxia foliar espiralada ou oposta. As folhas, pecioladas e simples, são palmadas em algumas espécies e podem ou não conter espículas. Frequentemente, os bordos das folhas são dentados. Não há estípulas.

As flores são pequenas, hermafroditas ou dioicas, agrupadas em inflorescências ramificadas, axilares e cimosas. As pequenas flores radialmente simétricas têm geralmente cinco pétalas, raramente quatro. As pétalas são tubulares e fundidas. Existe apenas um verticilo de estames. Os estames estão frequentemente fundidos com o tubo da corola. Os dois carpelos estão fundidos num ovário supragénito, com dois pistilos livres de formas diferentes. O grão de pólen é tricolpado (sulco, isopolares e clavados como forma de abertura), com variação de tamanho dependendo da localização em que se encontra.[4].

Os frutos são globosos, de coloração vermelha ou acastanhada, formando sâmaras de duas asas ou bagas mais ou menos achatadas.

A espécie Citronella mucronata é cultivada como planta ornamental devido às suas folhas brilhantes e atraentes e às suas flores perfumadas.[5] Uma tisana é feita a partir das folhas secas de Citronella gongonha, que é semelhante à erva-mate.[3]

Sistemática e filogenia

[editar | editar código]

O sistema de classificação APG III (2009) colocou esta família na ordem Aquifoliales, situação que se manteve no sistema APG IV, de 2016. Esta ordem é composta pela família Cardiopteridaceae, a sua família irmã, Stemonuraceae, e as três famílias monogenéricas Phyllonomaceae, Helwingiaceae e Aquifoliaceae.[6] Mais recentemente, alguns autores colocam esta família, em conjunto com a família Stemonuraceae, numa ordem Cardiopteridales Takhtajan.[7]

Taxonomia

[editar | editar código]

A família Cardiopteridaceae foi criada por Carl Ludwig Blume em 1847.[8] quando descreveu a espécie Cardiopteris moluccana.[9]

Blume baseou a nova família em Cardiopteris, um nome genérico que já tinha sido usado por John Forbes Royle[10] e Nathaniel Wallich,[11] mas não validamente publicado.[12]

Em 1843, Justus Hasskarl publicou o nome Peripterygium quinqueloba para a espécie que hoje é conhecido como Cardiopteris quinqueloba.[13] Blume indicou estar ciente da planta que Justus Hasskarl descrevera e incluiu-a como outra espécie de Cardiopteris quando publicou Cardiopteris moluccana.[14]

A Seguiu-se uma complexa disputa nomenclatural que se prolongou até bem entrado o século XX.[12][15] Como o basiónimo, Cardiopteris, estava em questão, o nome da família correspondente, Cardiopteridaceae, também estava em questão. A ICBN finalmente conservou o nome Cardiopteris contra Peripterygium.

Filogenia

[editar | editar código]

Antes do estudo seminal de Jesper Kårehed, publicado em 2001, a família Cardiopteridaceae era composta apenas pelo género Cardiopteris. Por exemplo, Hermann Sleumer considerava-a monogenérica na sua abordagem da família para Die Natürlichen Pflanzenfamilien em 1942.[16] John Hutchinson fez o mesmo em 1973.[17]

Em 2001, demonstrou-se que a família Icacinaceae era polifilética.[18] Desde então, foi dividida em cinco famílias segregadas: Cardiopteridaceae, Stemonuraceae, Pennantiaceae, Metteniusaceae e Icacinaceae sensu stricto. A família Icacinaceae sensu stricto acabou por ser dividida novamente.[19]

No estudo de 2001 sobre Icacinaceae, Jesper Kårehed transferiu Citronella, Gonocaryum e Leptaulus de Icacinaceae para Cardiopteridaceae. Nesse estudo também colocou provisoriamente Metteniusa, Dendrobangia e Pseudobotrys nessa família, até que estudos adicionais pudessem fornecer alguma indicação firme sobre as suas verdadeiras relações filogenéticas.[18]

Em 2007, um estudo de filogenética molecular mostrou que a Metteniusa pertence ao grupo de asterídeas conhecido como lamiídeas.[20] A ordem Aquifoliales, que inclui a família Cardiopteridaceae, pertence a outro grupo de asterídeas designado por campanulídeas.[21]

A inclusão de Pseudobotrys na família Cardiopteridaceae permanece duvidosa. Sequências de ADN enviadas ao GenBank em 2009 indicam que Dendrobangia não pertence à família Cardiopteridaceae e está mais intimamente relacionada com géneros como Apodytes.

A família Cardiopteridaceae, sensu Kårehed, é bastante diversificada, apesar de ter apenas seis géneros. Devido à estrutura distinta da Cardiopteris, alguns autores continuam a colocar o género Cardiopteris numa família à parte.[22] Os outros cinco géneros são então colocados na família Leptaulaceae, criada por Philippe van Tieghem em 1897.[23] A monofilia das Leptaulaceae nunca foi testada por análise filogenética de sequências de ADN.

Sistemática e distribuição

[editar | editar código]

A família Cardiopteridaceae está filogeneticamene mais próxima da família Stemonuraceae. Muitos táxons eram anteriormente classificados como Icacinaceae. A família Cardiopteridaceae foi criada em 1847 por Carl Ludwig Blume.

Os taxa ocorrem em regiões temperadas, subtropicais e tropicais. As áreas de distribuição natural encontram-se na América do Sul, África, Madagáscar, Sudeste Asiático e nas ilhas do Pacífico, bem como no leste da Austrália.

Na família Cardiopteridaceae existem cinco a seis géneros com cerca de 43 a 45 espécies:[24][25] (Para alguns autores, a família também é composta por menos géneros).

Distribuição no Brasil

[editar | editar código]

A família agrupa cerca de 43-45 espécies, mas apenas dois géneros são nativos brasileiros (Citronella e Dendrobangia), compostos por arvores, arbustos ou lianas.

As principais espécies ocorrentes nativas do Brasil são dos géneros Dendrobangia e Citronella, onde somente a última é ocorrente nas regiões Sul e Sudeste com dois tipos de exemplares: Citronella gongonha e Citronella paniculata, tendo como diferenciação a margem inteira sem ápice aculeado.[26].

O género Citronella encontra-se nos estados do Acre, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro , São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina [27].

Dendrobangia está distribuído nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe,Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina [27].

Do ponto de vista ecológico, as espécies diferemciam-se:

  • Citronella gongonha - planta pioneira ou secundária, esciófita ou de luz difusa, seletiva higrófita, essas caracteristicas são exclusivas de matas ciliares com terrenos brejosos do planalto Meridional. Apresenta uma frequência moderada, com sua distribuição irregular ao longo de sua área de ocorrência, onde produz anualmente moderada quantidade de sementes viáveis[26].
  • Citronella paniculata – planta de origem secundária, esciófita e seletiva higrófita, possuindo caracteristica da floresta semidecídua e da mata araucári. Apresenta geralmente baixa frequência em alguns pontos e faltando em outros. Prefere terrenos de várzeas muito húmidos e até pantanosos[26].

Referências

[editar | editar código]
  1. Angiosperm Phylogeny Group (2009), «An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III», Botanical Journal of the Linnean Society, 161 (2): 105–121, doi:10.1111/j.1095-8339.2009.00996.xAcessível livremente, hdl:10654/18083Acessível livremente 
  2. Vernon H. Heywood, Richard K. Brummitt, Ole Seberg, and Alastair Culham. Flowering Plant Families of the World. Firefly Books: Ontario, Canada. (2007). ISBN 978-1-55407-206-4.
  3. a b David J. Mabberley. 2008. Mabberley's Plant-Book third edition (2008). Cambridge University Press: UK. ISBN 978-0-521-82071-4
  4. Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2008. Botânica Sistemática. 2ª edição. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Nova Odessa.
  5. Anthony Huxley, Mark Griffiths, and Margot Levy (1992). The New Royal Horticultural Society Dictionary of Gardening. The Macmillan Press, Limited: London. The Stockton Press: New York. ISBN 978-0-333-47494-5 (set).
  6. Peter F. Stevens (2001 onwards). "Aquifoliales" At: Angiosperm Phylogeny Website. At: Missouri Botanical Garden Website. (see External links below)
  7. APGWeb: Cardiopteridales.
  8. James L. Reveal. 2008 onward. "A Checklist of Family and Suprafamilial Names for Extant Vascular Plants." At: Home page of James L. Reveal and C. Rose Broome. (see External links below).
  9. Carl Ludwig Blume. 1847. Rumphia 3:205.
  10. John Forbes Royle. 1839. "Illustrations of the Botany and other branches of Natural History of the Himalayan Mountains":136. William H. Allen & Co.: London, England. (see External links below).
  11. Nathaniel Wallich. Numerical list of dried specimens of plants in the Museum of the Honourable East India Company / which have been supplied by Dr. Wallich, superintendent of the botanic garden at Calcutta. number 8033. (publisher not named). London, 1828-1849. (see External links below).
  12. a b Reinier C. Bakhuizen van den Brink and Cornelis G.G.J. van Steenis. 1962. "Cardiopteris or Peripterygium?" Taxon 11(1):28-29.
  13. Justus Hasskarl. 1843. page 142. In: "Annotationes de plantis quibusdam Javanicis nonnullisque Japonicis, e Catalogo Horti Bogoriensis. Accedunt nonnullae novae species". Tijdschrift voor Natuurlijke Geschiedenis en Physiologie 10:115-150. (see External links below).
  14. Hermann Otto Sleumer. 1972. "Cardiopteridaceae" In: Flora Malesiana, series 1 7(1):93-96.
  15. Arthur A. Bullock. 1957. "Nomenclatural Notes.-II. Cardiopteridaceae". Kew Bulletin 12(2):356. (see External links below).
  16. Hermann Sleumer. 1942. "Icacinaceae" pages 322-396. In: H.G. Adolf Engler and Karl A.E. Prantl, with Hermann Harms and Johannes Mattfeld (editores). Die Natürlichen Pflanzenfamilien volume 20b. Duncker and Humblot: Berlin, Germany. 1960 reprint of 1942 publication.
  17. John Hutchinson The Families of Flowering Plants 3rd edition. 1973. Oxford University Press.
  18. a b Jesper Kårehed. 2001. "Multiple origin of the tropical forest tree family Icacinaceae". American Journal of Botany 88(12):2259-2274.
  19. Frederic Lens, Jesper Kårehed, Pieter Baas, Steven Jansen, David Rabaey, Suzy Huysmans, Thomas Hamann and Erik Smets. 2008. "The wood anatomy of the polyphyletic Icacinaceae s.l., and their relationships within asterids". Taxon 57(2):525-552.
  20. Favio González, Julio Betancur, Olivier Maurin, John V. Freudenstein, and Mark W. Chase. 2007. "Metteniusaceae, an early-diverging family in the lamiid clade". Taxon 56(3):795-800.
  21. Richard C. Winkworth, Johannes Lundberg, and Michael J. Donoghue. 2008. "Toward a resolution of Campanulid phylogeny, with special reference to the placement of Dipsacales". Taxon 57(1):53-65.
  22. Timothy M.A. Utteridge and Richard K. Brummitt. 2007. "Leptaulaceae" pages 191-192. In: Vernon H. Heywood, Richard K. Brummitt, Ole Seberg, and Alastair Culham. Flowering Plant Families of the World. Firefly Books: Ontario, Canada. (2007). ISBN 978-1-55407-206-4.
  23. Philippe E.L. van Tieghem. 1897. Comptes Rendus Hebdomadaires des Séances de l'Académie des Sciences 124:842.
  24. «Cardiopteridaceae». Agricultural Research Service (ARS), United States Department of Agriculture (USDA). Germplasm Resources Information Network (GRIN) 
  25. a b c d e f g h i Govaerts & al. {{{3}}}. Cardiopteridaceae em World Checklist of Selected Plant Families.
    The Board of Trustees of the Royal Botanic Gardens, Kew. Publicado na internet. Accesso: Cardiopteridaceae de {{{2}}} de {{{3}}}.
  26. a b c Lorenzi, H. 1992. Árvore brasileiras, manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil
  27. a b http://floradobrasil.jbrj.gov.br

Bibliografia

[editar | editar código]

Ver também

[editar | editar código]

Ligações externas

[editar | editar código]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Cardiopteridaceae
O Wikispecies tem informações relacionadas a Cardiopteridaceae.