Cèsar Martinell
| Cèsar Martinell | |
|---|---|
| Nome completo | Cèsar Martinell i Brunet |
| Nascimento | |
| Morte | 19 de novembro de 1973 (84 anos) |
| Nacionalidade | espanhol |
| Movimento | Modernismo catalão |
| Assinatura | |
Cèsar Martinell i Brunet (Valls, 24 de dezembro de 1888 — Barcelona, 19 de novembro de 1973) foi um arquiteto catalão cuja obra transita entre o modernismo e o novecentismo.[1]
Foi um dos principais nomes por trás da construção das chamadas Catedrais do Vinho — adegas cooperativas com valor arquitetônico e simbólico — projetadas em resposta ao desenvolvimento do cooperativismo agrário catalão no início do século XX.[2]
Biografia
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Filho de Ramon Martinell i Mas e de Lutgarda Brunet i Voltas, nasceu em Valls em 1888, ano em que Barcelona sediava a Exposição Universal.[3][4]
Iniciou o bacharelado em 1900 em sua cidade natal e, em 1906, mudou-se para Barcelona, onde estudou na Escola de Arquitetura sob a orientação de Lluís Domènech i Montaner e August Font i Carreras. Também frequentou a Escola de Arte de Francesc Galí, onde aprendeu desenho ao lado de Joan Miró e outros artistas.[3][4] Formou-se em arquitetura em 13 de março de 1916.[4]
Pouco antes de concluir o curso, iniciou colaborações com Joan Rubió e aproximou-se do círculo de Antoni Gaudí, que então trabalhava na Sagrada Família.[5] Conheceu pessoalmente Gaudí em 1915, durante visita à obra da Sagrada Família, e passou a integrar o círculo de seus discípulos.[3][6][4]
Foi nomeado arquiteto municipal de Valls, cargo que ocupou até 1919. Nesse período, com Eugeni d'Ors, contribuiu para a fundação da Biblioteca Popular de Valls, sendo o primeiro secretário do patronato.[3]
Foi nomeado decano do Colégio de Arquitetos de Barcelona em 1923 e,[7] entre 1932 e 1935, presidiu o Colégio de Arquitetos da Catalunha.[8]
Casou-se em 14 de outubro de 1926 com Maria Taxonera, natural de Arenys de Mar, com quem teve três filhos — Maria, César e Rosa Maria Martinell i Taxonera — e, nesse mesmo ano, viajou à Itália e à França.[9]
Em 1929, foi professor e secretário da Escola de Artes e Ofícios de Barcelona.[7]
Participou do Institut Agrícola Català de Sant Isidre (IACSI), organização agrária conservadora.[10] Durante a Segunda República Espanhola, o Instituto tentou se distanciar da liderança da Liga Regionalista para se aproximar das posições da Confederação Espanhola de Direitas Autônomas (CEDA).
Após o término da Guerra Civil Espanhola, ele projetou um monumento aos mortos da cidade de Arenys de Mar. Posteriormente, reintegrou-se ao Institut Agrícola Català de Sant Isidre, que à época já havia sido incorporado à Confederação Nacional Católico-Agrária.[11]
Foi cofundador do Centre d'Estudis Gaudinistes (1952) e do Institut d'Estudis Vallencs (1960), além de restaurador de monumentos históricos, especialmente igrejas e campanários, com abordagem científica.[3]
Obra arquitetônica
[editar | editar código]Ainda no início de sua carreira, Cèsar Martinell projetou mais de quarenta cooperativas, incluindo vinícolas, lagares de azeite e fábricas de álcool, concentradas principalmente nas regiões meridionais da Catalunha.[12][2] Nessas construções, empregou arcos de tijolo aparente em forma de catenária, solução estrutural inspirada nos conselhos de seu mestre Antoni Gaudí.[6] A ornamentação, por sua vez, contou com a colaboração do artista Xavier Nogués, que desenhou painéis cerâmicos decorativos.[2] A relevância dessas obras para a arquitetura rural catalã consolidou sua reputação profissional.[2]
Um segundo campo de atuação de Martinell foi a arquitetura religiosa, com a realização de capelas e retábulos.[12] Além disso, destacou-se, ainda que de forma menos expressiva, na construção de edifícios voltados à educação e à cultura, sem deixar de lado projetos de reforma e ampliação de residências particulares.[12]
Edificação residencial
[editar | editar código]Cèsar Martinell iniciou sua vida profissional com projetos de arquitetura privada, concentrados especialmente em sua cidade natal, Valls, e em outras localidades da Catalunha.[3] Entre suas primeiras obras destacam-se a Casa Badia, em Valls, a Casa de Nicolás Popol, conhecida como Casa dels Russos, em Santa Coloma d'Andorra, e a residência do Dr. Domingo, em Alcover.[3]
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Casa dels Russos, em Andorra.
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Carrer Astúries, 89, em Barcelona.
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Carrer Benavent, 11, em Barcelona.
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Carrer Galileu 20, em Barcelona.
Edificação industrial
[editar | editar código]O primeiro grande projeto de Cèsar Martinell como arquiteto surgiu em 1918, durante a vigência da Mancomunidade da Catalunha,[3] entidade que promovia o desenvolvimento do cooperativismo agrícola e incentivava obras públicas. Tratava-se da adega da Cooperativa Agrícola de Rocafort de Queralt, na província de Tarragona.[2]
A partir desse projeto, Martinell consolidou-se como especialista em construções agrárias, projetando cerca de quarenta adegas cooperativas até a dissolução da Mancomunidade pela ditadura de Miguel Primo de Rivera em 1923.[2] Suas adegas, conhecidas como "catedrais do vinho", combinavam inovação técnica, funcionalidade e uma estética modernista adaptada ao meio rural.
Segundo o arquiteto Ignasi de Solà-Morales i Rubió, "em sua obra singular entrecruzam-se a persistência da tradição gaudiniana e modernista com pressupostos culturais, ideológicos e formais do que se convencionou chamar de novecentismo".[1]
Além das adegas vinícolas, Martinell projetou prensas de azeite, um moinho de farinha para o Sindicato Agrícola de Cervera, armazéns de cereais e fábricas de álcool.[2][6][12] Entre suas obras industriais posteriores, destaca-se a fábrica das Destilarias Mollfulleda em Arenys de Mar, responsável pela produção do licor Calisay.[13][14]
Em seus projetos industriais, Martinell não se limitava ao desenho arquitetônico: dedicava atenção especial à organização funcional dos espaços, incluindo o posicionamento dos depósitos, o isolamento térmico, a ventilação e a disposição eficiente da maquinaria, aspectos que visavam otimizar o processo produtivo.[6]
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Detalhe da Adega Cooperativa de Rocafort de Queralt.
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Adega Cooperativa de Pinell de Brai.
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Adega Cooperativa de Gandesa.
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Interior da Adega Cooperativa de Gandesa.
Urbanismo e equipamentos
[editar | editar código]Além de residências, Martinell projetou escolas, edifícios administrativos e obras de infraestrutura.[12] Destacam-se:
- Escola e prefeitura de Salomó (1916–1917)
- Sede da Federação Operária em Molins de Rei (1922–1923)
- Requalificação da muralha da Guerra dos Segadores em Cambrils (1932)[16]
Projetos urbanísticos em Juneda, Moià e Arenys de Mar (décadas de 1940–50)
Restauração
[editar | editar código]A partir de 1929, Martinell envolveu-se na restauração de monumentos, principalmente religiosos.[17] Após a Guerra Civil Espanhola, conduziu os trabalhos de restauração na Igreja de Santa Maria e nos conventos de Santo Agostinho e dos Capuchinhos na cidade de Igualada. De 1962 a 1970, atuou na restauração de igrejas nas regiões montanhosas de Andorra.
Obra literária
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Martinell também se destacou como escritor e ensaísta, tendo publicado:
- Arquitectura i escultura barroca a Catalunya (1954–1964)
- Gaudí: su vida, su teoría, su obra (1967)
- Construcciones agrarias en Cataluña (1972)
- Gaudí i la Sagrada Família comentada per ell mateix (1999)
Prêmios e reconhecimentos
[editar | editar código]- Medalha de Prata da Academia de Sant Jordi (1950)
- Chevalier de l'Ordre des Arts et des Lettres da França (1959)
- Diversos prêmios de arquitetura e literatura na Catalunha entre 1921 e 1960
Referências
- ↑ a b Buqueras i Bach, Josep (1990). «L'arquitecte Cèsar Martinell i les cooperatives agrícoles de l'Alt Camp». Quaderns de Vilaniu (em catalão) (18): 14. Consultado em 23 de abril de 2025. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2014
- ↑ a b c d e f g Cuerva, Eva; Urbano, Judith; Cornadó, Còssima (2019). «Recovering Industrial Heritage: Restoration of the Wine Cellar Cooperative in Falset (Catalonia, Spain)». Buildings (em inglês). 9 (12): 243. doi:10.3390/buildings9120243. Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ a b c d e f g h Biblioteca Pública de Tarragona (ed.). «Cèsar Martinell» (em catalão). Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ a b c d Bassegoda i Hugas, Bonaventura (2022). «La visita de Cèsar Martinell al Museu del Prado a l'octubre de 1913 i els seus escrits sobre El Greco de 1914». RACBASJ. Butlletí de la Reial Acadèmia Catalana de Belles Arts de Sant Jordi (em catalão). 36: 109–126. Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ Díaz Álvarez, Laura. «Estudio histórico y gráfico de la obra de César Martinell i Brunet. Cooperativa Agrícola de Barbera de la Conca» (PDF) (em espanhol). Consultado em 26 de março de 2008. Cópia arquivada (PDF) em 18 de julho de 2011
- ↑ a b c d Ginovart, Josep Lluís; López-Piquer, Mónica; Miralles-Jori, Roger; Coll-Pla, Sergio; Costa-Jover, Agustí (2017). «Design and layout of arches in Pinell de Brai cooperative. The legacy of Catalan construction on Cèsar Martinell wine cellar designs (1919–1927)». Construction History (em inglês). 32 (2): 67–82. Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ a b «Biografia de Cèsar Martinell». Gaudiallgaudi.com. Consultado em 26 de abril de 2025. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2011
- ↑ «Cèsar Martinell. L'ARQUITECTURA ESCRITA». Col·legi d'Arquitectes de Catalunya. Consultado em 26 de abril de 2025. Cópia arquivada em 21 de julho de 2011
- ↑ «Cèsar Martinell, el degà de les catedrals del vi». Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ Gavaldà i Torrents, Antoni (2002). «L'arquitecte Cèsar Martinell: les actituds polítiques i socials». Plecs d'història local (100). pp. 13–18
- ↑ Tébar Hurtado, Javier. «Contrarevolución y poder agrario en el franquismo (1939-1945)» (PDF) (em espanhol). Consultado em 29 de março de 2008. Cópia arquivada (PDF) em 13 de julho de 2014
- ↑ a b c d e f Gavaldà i Torrents, Antoni (2011). «L'arquitecte Cèsar Martinell: les actituds polítiques i socials». Plecs d'història local (em catalão). 125: 3–18. Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ «Valls commemora els 50 anys de la mort del vallenc il·lustre Cèsar Martinell amb una ruta guiada» (em catalão). Ajuntament de Valls. Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ «El monument als caiguts de la Guerra Civil d'Arenys de Mar serà reubicat al cementiri» (em catalão). Ajuntament d'Arenys de Mar. Consultado em 23 de abril de 2025
- ↑ «Conèixer Bràfim». Consultado em 30 de março de 2008. Cópia arquivada em 19 de março de 2009
- ↑ Francisco Manuel de Melo, Historia de los movimientos, separación y guerra de Cataluña en tiempos de Felipe IV. Servicio de Publicaciones, Universidad de Cádiz. ISBN 84-7786-021-1. «Texto completo». Consultado em 31 de março de 2008. Cópia arquivada em 15 de junho de 2009
- ↑ «Tres vallencs s'incorporaran a la Galeria de Ciutadans Il·lustres». Consultado em 26 de março de 2008. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2008
Bibliografia
[editar | editar código]- (em catalão) Petita història de Cèsar Martinell ISBN 978-84-8334-126-1
- (em catalão) Raquel Lacuesta i Josep I. de Llorens, Cèsar Martinell ISBN 84-88258-21-6
- (em catalão) Raquel-Ruth Lacuesta Contreras, Les Catedrals del Vi ISBN 978-84-92758-28-9
- (em catalão) Antoni Gavaldà i Torrents, L'arquitecte Cèsar Martinell: les actituds polítiques i socials
- (em castelhano) Diversos autors, Cesar Martinell, Ramon Crusi i Moré (ed).
- (em castelhano) Francesc Xavier Mingorance i Ricart. Las intervenciones en el patrimonio de César Martinell i Brunet, arquitecto conservador de monumentos del Servicio de Defensa del Patrimonio Artístico Nacional
- (em castelhano) Ignasi Solà-Morales Rubió, Raquel-Ruth Lacuesta, Cèsar Martinell Brunet. Construccions agràries a Catalunya (1975) ISBN 84-7080-419-7
- (em francês) François Loyer, L'Art Nouveau en Catalogne: 1888-1929 (1991) ISBN 2-85047-186-0
- Antoni Gonzàlez i Moreno-Navarro. Glosa biogràfica amb motiu de la concessió de la medalla d'or de la ciutat de Valls (1992)