Ver código fonte para Macrocosmo e microcosmo

{{ver desambig||Microcosmo (desambiguação)|redir=Microcosmo}}[[Ficheiro:Robert_Fludd_1.gif|miniaturadaimagem|495x495px|De [[Robert Fludd]], ''Utriusque cosmi historia'', Oppenheim/Frankfurt, 1617–1621.]]
A '''analogia microcosmo-macrocosmo''' (ou, equivalentemente, '''analogia macrocosmo-microcosmo''') refere-se a uma visão histórica que postulou uma semelhança estrutural entre o [[Humano|ser humano]] (o microcosmo, ou seja, a ''pequena ordem'' ou o ''pequeno [[universo]]'') e o [[Cosmo|cosmos]] como um todo (o macrocosmo, ou seja, a ''grande ordem'' ou o ''grande universo'').<ref>Os termos microcosmo e macrocosmo derivam do [[Língua grega antiga|grego antigo]] μικρός κόσμος (''mikrós kósmos'') e μακρός κόσμος (''makrós kósmos''), o que pode significar "pequeno universo" e "grande universe", mas cujos sentidos primários são "ordem menor" e "ordem maior", respectivamente (cf. {{Harvnb|Allers|1944|loc=pp. 320-321, nota 5}}).</ref> Dada essa analogia fundamental, verdades sobre a natureza do cosmos como um todo poderiam ser inferidas de verdades sobre a natureza humana e vice-versa.<ref>Sobre o macrocosmo e microcosmo em geral, ver, p. ex., {{Harvnb|Conger|1922}}; {{Harvnb|Allers|1944}}; {{Harvnb|Barkan|1975}}.</ref>

Um importante corolário dessa visão é que o cosmos como um todo pode ser considerado vivo e, portanto, ter uma [[mente]] ou [[alma]] (a [[Alma do Mundo]]), uma posição avançada por [[Platão]] em seu ''[[Timeu (diálogo)|Timeu]]''.<ref>Ver {{Harvnb|Olerud|1951}}.</ref> Além disso, essa mente ou alma cósmica era frequentemente considerada divina, principalmente pelos [[estoicos]] e por aqueles que foram influenciados por eles, como os autores da ''[[Corpus Hermeticum|Hermética]]''.<ref>Sobre os estoicos, ver {{Harvnb|Hahm|1977|loc=63ff.}}; sobre a ''Hermetica'', ver {{Harvnb|Festugière|1944–1954|loc=vol. I, pp. 92-94, 125-131}}.</ref> Consequentemente, às vezes se inferia que a mente ou alma humana também era de natureza divina.

Além dessa importante aplicação psicológica e noética (isto é, relacionada a [[Nous]]), a analogia também foi aplicada à [[Corpo humano|fisiologia humana]].<ref>See, e.g., {{Harvnb|Kranz|1938|pp=130–133}}.</ref> Por exemplo, as funções [[Cosmologia|cosmológicas]] dos sete [[planetas clássicos]] às vezes eram consideradas análogas às funções fisiológicas dos [[Órgão (anatomia)|órgãos]] humanos, como o [[coração]], o [[baço]], o [[fígado]], o [[estômago]], etc.<ref>Ver o desenho mostrado à direita, que correlaciona o sol (considerado como um planeta no [[modelo geocêntrico]]) com o coração.</ref>

A visão em si é antiga e pode ser encontrada em muitos sistemas filosóficos em todo o mundo, como por exemplo na [[História da Mesopotâmia|antiga Mesopotâmia]],<ref name=":0">{{Harvnb|Svärd|Nokso-Koivisto|2014}}.</ref> no [[História do Irão|antigo Irã]]<ref>{{Harvnb|Götze|1923}}; {{Harvnb|Duchesne-Guillemin|1956}}.</ref> ou na antiga [[filosofia chinesa]].<ref>{{Harvnb|Raphals|2015–2020}}.</ref> No entanto, os termos microcosmo e macrocosmo referem-se mais especificamente à analogia conforme foi desenvolvida na [[Filosofia da Grécia Antiga|filosofia grega antiga]] e seus descendentes [[Filosofia medieval|medievais]] e [[Filosofia do Renascimento|modernos]]. Ela perpassou por doutrinas do [[esoterismo ocidental]] e [[Esoterismo no Oriente|oriental]] como a [[magia]], [[alquimia]] e [[astrologia]], além de sistemas de [[medicina]] e [[psicologia]].<ref>Nicola, Ubaldo (1999). ''Illustrated Atlas of Philosophy''. Giunti Editores. p. 224</ref><ref name=":42">Djurdjevic, Gordan (2014). [https://www.academia.edu/44268908/A_WEB_OF_RELATIONS_INTERPRETING_INDIAN_YOGA_AND_TANTRA_AS_FORMS_OF_ESOTERICIS «A Web of Relations: Interpreting Indian Yoga and Tantra as Forms of Esotericism»]. In: ''India and the Occult''. Nova Iorque: Palgrave Macmillan. p. 21-33.</ref>

No uso contemporâneo, os termos microcosmo e macrocosmo também são empregados para se referir a qualquer sistema menor que seja representativo de um sistema maior e vice-versa.

== História ==

=== Antiguidade ===
Entre os antigos [[Filosofia da Grécia Antiga|filósofos antigos gregos]] e [[Filosofia helenística|helenísticos]], notáveis proponentes da analogia microcosmo-macrocosmo incluíram [[Anaximandro]] (c. 610 – c. 546 AEC),<ref>Ver, p. ex., {{Harvnb|Allers|1944}}.</ref> [[Platão]] (c. 428 ou 424 – c. 348 AEC),<ref>Ver especialmente {{Harvnb|Olerud|1951}}.</ref> os [[Corpus Hippocraticum|autores hipocráticos]] (final do quinto século ou início do quarto século AEC e em diante),<ref>Ver {{Harvnb|Kranz|1938}}; {{Harvnb|Schluderer|2018}}.</ref> e os [[estoicos]] (terceiro século AEC e em diante).<ref>Ver {{Harvnb|Hahm|1977|loc=63ff.}}</ref> Em períodos posteriores, a analogia foi especialmente proeminente nas obras dos filósofos que foram fortemente influenciados pelo pensamento platônico e estoico, como [[Fílon de Alexandria]] (c. 20 AEC – c. 50 EC),<ref>Ver, p. ex., {{Harvnb|Runia|1986|loc=pp. 87, 133, 157, 211, 259, 278, 282, 315, 324, 339, 388, 465-466}}.</ref> os autores da ''[[Corpus Hermeticum|Hermética]]'' grega inicial (c. 100 a.C. – c. 300),<ref>Ver {{Harvnb|Festugière|1944–1954|loc=vol. I, pp. 92-94, 125-131}}.</ref> e os [[Neoplatonismo|neoplatonistas]] (terceiro século em diante).<ref>Ver, p. ex., {{Harvnb|Wilberding|2006|pp=53–56}}.</ref> A analogia também começou a ocorrer desde uma data inicial na literatura religiosa, como na obra enciclopédica [[Zoroastrismo|zoroastriana]] chamada ''[[Bundahishn]]'', ou no antigo [[Literatura rabínica|texto rabínico]] chamado ''[[Avot de Rabbi Nathan|Avot de-Rabbi Nathan]]''.<ref name="Não_nomeado-x_Q--1">{{Harvnb|Jacobs|Broydé|1906}}; {{Harvnb|Kraemer|2007}}.</ref>

Na Antiga Mesopotâmia, o microcosmismo [[holístico]] era manifesto na figura do rei, visto como um "ser humano perfeito" que integrava o divino e o humano, e portador da ordem cósmica em seu governo através do paralelismo celeste e terreno.<ref name=":0" /> A estreita relação entre macrocosmo e microcosmo também era conhecida em sistemas de [[adivinhação]], por exemplo nos [[haruspício]]s e outras [[Extispício|leituras de entranhas]], em que o estudo da correspondência entre a abóbada celeste e os elementos vivos e não vivos da terra permitia significados como [[auspício]]s capazes de predizer o [[destino]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=3I4MpgsBhA0C&pg=PA150|título=A Companion to Greek Religion|ultimo=Ogden|primeiro=Daniel|data=2008-04-15|editora=John Wiley & Sons|lingua=en}}</ref><ref name=":0" /> Entre os [[etruscos]], e posteriormente na prática passada aos [[Roma Antiga|romanos]], a vontade divina podia ser observada nos sinais do fígado, dividido em zonas que correspondiam a setores da morada dos deuses no Céu.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=OTMOAQAAMAAJ&q=%22macrocosm%22+%22haruspicy%22|título=Encyclopedia of religion|ultimo=Dominique|primeiro=Briquel|data=2005|editora=Macmillan Reference USA|editor-sobrenome=Jones|editor-nome=Lindsay|lingua=en|capitulo=Etruscan Religion}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Uf2_kHAs22sC&pg=PA99|título=Roman and European Mythologies|ultimo=Schilling|primeiro=Robert|data=1992-11-15|editora=University of Chicago Press|editor-sobrenome=Bonnefoy|editor-nome=Yves|lingua=en|capitulo=Roman Divination}}</ref> Nas práticas mânticas chinesas, desde o [[Período dos Estados Combatentes]] os [[Filosofia chinesa|diversos sistemas cosmológicos]], como de [[yin e yang]] e dos [[Wu Xing|cinco elementos]], competiam entre si e passaram a se associar a padrões de fenômenos espaciais, temporais, corporais e a auspícios, tal como nos [[hexagramas]]; na [[dinastia Han]], o sistema da "cosmologia correlativa" entre os reinos do Céu, Terra e humanidade fazia correlações simbólicas com [[número]]s.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Zx6yDwAAQBAJ&pg=PA268|título=Ancient Divination and Experience|ultimo=Raphals|primeiro=Lisa|data=2019|editora=Oxford University Press|editor-sobrenome=Driediger-Murphy, Lindsay G.; Driediger-Murphy, Lindsay Gayle; Eidinow, Esther|lingua=en|capitulo=Which Gods if Any. Gods, Cosmologies, and Their Implications for Chinese and Greek Divination}}</ref>

==== Grécia e mundo helenístico ====
[[Ficheiro:Angelo monticelli shield-of-achilles.jpg|miniaturadaimagem|318x318px|O [[Escudo de Aquiles]], descrito na ''[[Ilíada]]'' como tendo sido forjado por [[Hefesto]], continha uma representação do cosmos, cujas figuras da descrição foram interpretadas como se movendo nos círculos divididos. "Nele ele forjou a Terra, nele o Céu, nele o Mar; o incansável Sol e a Lua em plenitude; nele todas as constelações com as quais o Céu é circundado" (''Ilíada'' 18.483–489).<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=NdX7DwAAQBAJ&pg=PA8|título=The Moon in the Greek and Roman Imagination: Myth, Literature, Science and Philosophy|ultimo=Mheallaigh|primeiro=Karen ní|data=2020-10-22|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref>]]
Na [[Grécia Antiga]], a visão do cosmos como uma entidade animada se refletia na [[política]], que identificava a ordem natural do universo com as [[leis]] da cidade.<ref>“Há uma profunda analogia de estrutura entre o espaço institucional no qual o ''kosmos'' humano se expressa e o espaço físico no qual os milesianos projetam o ''kosmos'' natural. [...] Destas correspondências entre a estrutura do cosmos natural e a organização do cosmos social, Platão se mostra ainda plenamente consciente no século IV" (Jean Pierre Vernant, em ''Le origini del pensiero greco'', VII, ''La nuova immagine del mondo'').</ref> O homem grego foi então inserido em uma [[Harmonia (música)|harmonia]] existente entre a [[pólis]] e seus habitantes, assimilada àquela existente na natureza entre o todo e suas partes individuais.<ref>Zeller, Eduard; Mondolfo, Rodolfo (1974). ''La filosofia dei Greci nel suo sviluppo storico''. La Nuova Italia. p. 258</ref> A [[Máximas délficas|máxima de Delfos]] "[[conhece-te a ti mesmo]]" é associada a uma versão expandida ao macrocósmico, que é dita como tendo sido a completa inscrita no Templo: "conhece a ti mesmo—e tu conhecerás todos os mistérios dos deuses e do universo".<ref name=":1">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vmjIDwAAQBAJ&pg=PA541|título=Brill's Companion to the Reception of Plutarch|ultimo=Bishop|primeiro=Paul|data=2019-10-07|editora=BRILL|editor-sobrenome=Xenophontos|editor-nome=Sophia|lingua=en|capitulo=Plutarch and Goethe|editor-sobrenome2=Oikonomopoulou|editor-nome2=Katerina}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=giFFDwAAQBAJ&pg=PT40|título=Science: An Introductory Reader|ultimo=Steiner|primeiro=Rudolf|data=2013-05-01|editora=Rudolf Steiner Press|lingua=en}}</ref>

Entre os [[pré-socráticos]], [[Anaxímenes de Mileto|Anaxímenes]] foi considerado por [[Clemens Baeumker]] e Meyer como um fundador da analogia (porém considerado por [[John Burnet]] como recebendo influências), que é evidenciada em um fragmento dele: "assim como nossa alma, que é [[Ar (elemento)|ar]], nos mantém unidos, é a respiração e o ar que abrangem o mundo inteiro".<ref name=":3">Conger, George Perrigo (1922). ''[[iarchive:theoriesofmacroc00conguoft/page/2/|Theories of Macrocosms and Microcosms in the History of Philosophy]]''. Nova Iorque: Columbia University Press.</ref> [[Anaxágoras]] em sua doutrina das [[homeomeria]]s afirmou que há "uma porção de tudo que está em todas as coisas".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Zck2AAAAQBAJ&pg=PA543|título=The Presocratic Philosophers: A Critical History with a Selcetion of Texts|ultimo=Kirk|primeiro=G. S.|ultimo2=Raven|primeiro2=J. E.|ultimo3=Schofield|primeiro3=M.|data=1983-12-29|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref> Há relato de que [[Metrodoro de Lâmpsaco]] identificou os deuses como uma [[Alegoria|alegorização]] dos órgãos do [[corpo humano]], seguindo a característica de Anaxágoras de relacionar as partes do universo e as partes do corpo.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.researchgate.net/profile/Mikolaj-Domaradzki/publication/285628047_The_Sophists_and_Allegoresis/links/5818d01a08ae50812f5dd24a/The-Sophists-and-Allegoresis.pdf |titulo=The Sophists and Allegoresis |data=2015 |acessodata=2021-05-02 |jornal=Ancient Philosophy |número=2 |ultimo=Domaradzki |primeiro=Mikołaj |paginas=247–258 |doi=10.5840/ancientphil201535220 |issn=0740-2007 |volume=35}}</ref>

No [[pitagorismo]] havia correspondências matemáticas e musicais em harmonia e Número, como afirma [[F. M. Cornford]]:<ref>Cornford, F. M. (1922). «Mysticism and Science in the Pythagorean Tradition». In: Mourelatos, Alexander P. D. (14 de julho de 2014). ''[https://books.google.com.br/books?id=Ij0ABAAAQBAJ&pg=PA147&dq=%22macrocosm%22 The Pre-Socratics: A Collection of Critical Essays]'' (em inglês). [S.l.]: Princeton University Press</ref><blockquote>"A razão para supor que a doutrina "alma=harmonia" remonta a Pitágoras é que ela parece decorrer da correspondência entre macrocosmo e microcosmo e ser exigida pela concepção fundamental da imitação de Deus, considerada como a sintonia da alma em consonância com a harmonia celestial, a única que manifestará ''euharmostia'' na perfeição. "''Todo o Céu é harmonia e número''." O macrocosmo é uma criatura viva com uma alma, ou princípio de vida, e um corpo. É fácil inferir que a alma do mundo é uma harmonia ou sistema de números (como é descrito pelo Timeu pitagórico em Platão)—aquela mesma harmonia que se manifesta no sentido da ordem dos corpos celestes e deve ser reproduzida na sintonização da alma individual"</blockquote>Esse pensamento aparece na consideração de paralelos e opostos em pitagóricos como [[Alcmeão]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=of-ghBD9q1QC&pg=PA359&lpg=PA359&dq=%22macrocosm%22|título=Pythagoras and the Early Pythagoreans|ultimo=Zhmud|primeiro=Leonid|data=2012-05-31|editora=OUP Oxford|lingua=en}}</ref> e [[Filolau de Crotona|Filolau]], este último tendo descrito uma [[embriologia]] segundo a qual o bebê recém-nascido contém apenas o elemento do calor, mas que, ao respirar, passa a absorver o oposto, o do frio, harmonizando-se de forma análoga ao que ocorre em sua cosmologia do [[Fogo Central]], em que o nascimento do cosmos se dá quando o fogo central limitado puxa o ar do [[Ápeiron|Ilimitado]] ou que o Um absorve o tempo e vácuo como em respiração.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=deoD0uAdQVwC&pg=PA88&lpg=PA88&dq=%22macrocosm%22|título=Reading Ancient Texts: Presocratics and Plato|ultimo=Huffmann|primeiro=Carl|data=2007|editora=BRILL|editor-sobrenome=O'Brien, Denis; Stern-Gillet, Suzanne; Corrigan, Kevin|lingua=en|capitulo=Philolaus and the Central Fire}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=0qqp4Vk1zG0C&pg=PA532&lpg=PA532&dq=pythagoras+%22macrocosm%22|título=Lore and Science in Ancient Pythagoreanism|ultimo=Burkert|primeiro=Walter|data=1972|editora=Harvard University Press|lingua=en}}</ref> 

Os fragmentos de [[Empédocles]] indicam uma visão orgânica do cosmos em seus ciclos sucessivos de Amor e Contenda, descritos pela analogia de "membros físicos" manifestos no Deus Esfero, com sua correspondente emissão e retração, união e separação: "Mas quando a Contenda se tornou grande em seus membros e assumiu suas prerrogativas, uma vez que o tempo foi estabelecido para ambos, por sua vez, por um amplo juramento" (fragmento 30) e "pois um por um, todos os seus membros o Deus começou a tremer" (fragmento 31).<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=P2IqpqA9wj4C&pg=PP449&lpg=PP449&dq=%22empedocles%22+%22macrocosm%22+%22limbs%22|título=Parmenides and Presocratic Philosophy|ultimo=Palmer|primeiro=John|data=2009-10-29|editora=OUP Oxford|lingua=en}}</ref> Isso foi também precedido de explicações de microcosmo sobre os órgãos e membros do corpo: "Isso se manifesta na massa de membros mortais. Em um momento nossos membros se unem para ser um no amor e obter um corpo, no auge da vida florescente; em outro momento, novamente divididos por contendas malignas, eles vagam uns separados dos outros ao longo do litoral da vida" (fragmento 20).<ref name=":7">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Uwf2DwAAQBAJ&pg=PA126&lpg=PA126&dq=%22microcosm%22|título=A Cultural History of the Senses in Antiquity|ultimo=Clements|primeiro=Ashley|data=2014-10-23|editora=Bloomsbury Publishing|editor-sobrenome=Toner|editor-nome=Jerry|lingua=en|capitulo=The Senses in Philosophy and Science}}</ref> Além do mais, Empédocles considerava esse sistema como em harmonia e organizado pelos [[quatro elementos]] (por ele chamados de "raízes"),<ref name=":7" /> e que sensação e pensamento ocorriam devido à correspondência dos mesmos elementos, do semelhante em semelhança com as coisas.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=eS-CjaJspBMC&pg=PA176&dq=empedocles+%22macrocosm%22|título=The Founders of Western Thought – The Presocratics: A diachronic parallelism between Presocratic Thought and Philosophy and the Natural Sciences|ultimo=Vamvacas|primeiro=Constantine J.|data=2009-05-28|editora=Springer Science & Business Media|lingua=en}}</ref> 

Houve também consideração de paralelismo e isomorfismo das dimensões cósmicas em [[Heráclito]], na doutrina do [[Logos]], que ele admitia como um só e o mesmo, tanto macroscopicamente como razão e lei na realidade divina, quanto como paradigma para a lei da pólis e na razão da realidade humana: Heráclito exortava a conduta reta que incorporaria essa ordem da natureza.<ref name=":4">Lebedev, Andrei V. (2017). [https://www.academia.edu/8177637/Metaphor_of_Liber_Naturae_and_Alphabet_Analogy_in_Heraclitus_Logos_Fragments_with_some_remarks_on_Platos_dream_theory_and_the_origin_of_the_concept_of_elements_Studia_Praesocratica_v_8_2017_231_267 «The Metaphor of ''liber naturae'' and the Alphabet Analogy in Heraclitusʼ logos-Fragments (with some remarks on Plato's "dream theory" and the origin of the concept of elements)»]. In: Fantino, Enrica; Muss, Ulrike; Schubert, Charlotte; Sier, Kurt. ''Heraklit im Kontext''. Col: Studia Presocratica. '''8'''. Berlim/Boston: De Gruyter.</ref><ref name=":5">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=NCfoBQAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA206|título=Doctrine and Doxography: Studies on Heraclitus and Pythagoras|ultimo=Long|primeiro=Anthony A.|data=2013-10-30|editora=Walter de Gruyter|editor-sobrenome=Sider|editor-nome=David|lingua=en|capitulo=Heraclitus on Measure and the Explicit Emergence of Rationality|editor-sobrenome2=Dirk|editor-nome2=Obbink}}</ref> Há indícios de que ele teria feito uma metáfora musical e [[Gramática|gramatical]] de parte e todo para explicar o universo como um "livro da natureza", que possuía o "logos" (que em grego significava também "texto"), formado por sílabas que teriam como componentes simples as "letras" (''grámmata'' ou ''stoicheia'', esta última palavra foi adotada por Platão posteriormente para se referir aos [[elementos clássicos]]).<ref name=":4" />

A ocorrência mais antiga da combinação gramatical "microcosmo" em si é vista em [[Demócrito]], porém utilizando-se duas palavras separadas em grego, na sua obra perdida chamada ''Mikros Diakosmos'',<ref name=":12">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=WxCnDwAAQBAJ&pg=PA170|título=Imago Dei: The Byzantine Apologia for Icons|ultimo=Pelikan|primeiro=Jaroslav|data=2011-09-26|editora=Princeton University Press|lingua=en}}</ref> conforme no fragmento 34 se lê: "no homem, que é um pequeno cosmo (''en tô anthrôpôi mikrôi cosmôi onti'')".<ref name=":9">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=stXzDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA116&dq=%22microcosm%22&hl=pt-BR|título=Early Greek Philosophies of Nature|ultimo=Gregory|primeiro=Andrew|data=2020-10-01|editora=Bloomsbury Publishing|lingua=en}}</ref>
 
A doutrina [[Antropocentrismo|antropocêntrica]] do ''homo mensura'' ou ''ánthropos métron'', expressa na frase de [[Protágoras]] "o homem é a medida de todas as coisas", não foi considerada pelo público grego em seu teor cosmológico,<ref name=":3" /> mas ela poderia admitir um significado universal e foi abordada em caráter cívico por Platão.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/3885813 |titulo=The Project of Protagoras |data=1993 |acessodata=2021-05-03 |jornal=Rhetoric Society Quarterly |número=1 |ultimo=Donovan |primeiro=Brian R. |paginas=35–47 |issn=0277-3945}}</ref> Ela foi afirmada pelo [[sofista]] como um desenvolvimento do logos de Heráclito, porém para Protágoras os diversos discursos das pessoas eram condicionados às diversas [[Aparência|aparências]] em fluxo que elas experimentavam, e isso admitia opiniões contraditórias irresolvíveis, em ''logoi'' opostos (antilogias), de modo que, entre as alternativas de [[opinião]] e [[conhecimento]], nenhum julgamento poderia ser falso e não se poderia alcançar uma verdade unificada além da individual.<ref>Pereira, Bianca Vilhena C. (dezembro de 2016). [https://www.ufjf.br/eticaefilosofia/files/2009/08/19_2_pereira.pdf "As Antilogias ou Discursos Duplos no Pensamento de Protágoras: As Influências de Heráclito e Parmênides"]. ''Revista Ética e Filosofia Política'' '''2''' (19).</ref><ref name=":6">{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/4181910 |titulo=Protagoras -- or Plato? |data=1973 |acessodata=2021-05-03 |jornal=Phronesis |número=2 |ultimo=Maguire |primeiro=Joseph P. |paginas=115–138 |issn=0031-8868}}</ref> No diálogo ''[[Teeteto]]'', [[Sócrates]] rejeitou a interpretação sofística de que "cada homem" seria a medida do logos e repudiou o consequente [[relativismo]] da verdade: "ainda não concordamos com Protágoras que todo homem é a medida de todas as coisas, a menos que ele seja sábio".<ref name=":6" /> Posteriormente, referindo-se ao mesmo assunto de escala métrica, Platão afirma em ''[[Leis (diálogo)|Leis]]'' 716 que "Só há uma maneira de agir, e somente um relato disso, a saber, o antigo logos de que semelhante é amigo de semelhante, desde que se conforme à medida; coisas que não se conformam à medida, por outro lado, não são amigas nem para a si próprias nem àquelas que se conformam. Em nossa opinião, é Deus quem é preeminentemente a medida de todas as coisas, muito mais do que qualquer homem, como se costuma dizer".<ref name=":5" /> Outro aspecto de macrocosmo-microcosmo foi apresentado por Sócrates em relação aos elementos no ''[[Filebo]]'' 29b-e:<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=vaquG-yqpA0C&oi=fnd&pg=PA169&dq=%22macrocosm%22|título=Plato and His Predecessors: The Dramatisation of Reason|ultimo=McCabe|primeiro=Mary Margaret|data=2007-03-08|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref><blockquote>"Vemos os elementos que pertencem à natureza de todos os seres vivos, fogo, água, ar e terra—ou, como dizem os marinheiros sacudidos pela tempestade, terra à vista—na constituição do universo. ... O fogo, por exemplo, existe em nós e também no universo. ... Bem, o fogo do universo é alimentado, originado e regido pelo fogo dentro de nós, ou, pelo contrário, o meu fogo e o seu e o de todos os seres vivos derivam alimento e tudo o que vem do [[Fogo Central|fogo universal]]? ... o mesmo da terra que está em nós, criaturas vivas, e que está no universo, e com relação a todos os outros elementos sobre os quais eu perguntei um momento atrás, sua resposta será a mesma. ... Aplique a mesma linha de pensamento àquilo que chamamos de cosmos. Seria da mesma forma um [[corpo]], sendo composto dos mesmos elementos."<ref>{{Citar web |url=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus:text:1999.01.0174:text=Phileb.:section=29b |titulo=Plato, Philebus, section 29b |acessodata=2021-05-03 |website=www.perseus.tufts.edu}}</ref></blockquote>No ''Timeu'', Platão também considera a ''[[khôra]]'' cosmogônica como sendo replicada no corpo humano e que, devido a isso, para se superar uma doença deve-se imitá-la, como a "ama do universo" e protótipo, retornando ao seu estado inicial de ordem e mesmidade em sintonia com o Demiurgo, tal como de início isso se refletia nos movimentos da ''khôra'' na geração do cosmos.<ref>Isar, Nicoletta (junho de 2009). [https://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.674.2671&rep=rep1&type=pdf "<nowiki>''</nowiki>Chôra<nowiki>''</nowiki>: Tracing the Presence"]. ''Review of European Studies'' '''1''' (1). [https://web.archive.org/web/20220813012228/https://citeseerx.ist.psu.edu:443/viewdoc/download?doi=10.1.1.674.2671&rep=rep1&type=pdf Arquivado] na [[Wayback Machine]] em 12 de agosto de 2022.</ref> ''Khôra'' é descrita em analogias femininas e maternas, como de [[útero]], e sua característica "vagante" ou de "errância" (''planōmēs'') é também utilizada para a descrição posterior sobre o órgão uterino no mesmo diálogo, em uma passagem que se tornou ''[[locus classicus]]'' da [[histeria]].<ref>{{Citar periódico |url=https://philarchive.org/archive/BIARFT |titulo=Receptacle/''Chōra'': Figuring the Errant Feminine in Plato's Timaeus |data=outono de 2006 |jornal=Hypatia |número=4 |ultimo=Bianchi |primeiro=Emanuela |paginas=124–146 |lingua=en |doi=10.1111/j.1527-2001.2006.tb01131.x |issn=0887-5367 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20220813015541/https://philarchive.org/archive/BIARFT |arquivodata=12 de agosto de 2022 |volume=21}}</ref><ref>Sadoff, Julie Beth (2002). [https://www.proquest.com/openview/4c0ca80efa8c89b2303a077eb5b99453/1?pq-origsite=gscholar&cbl=18750&diss=y Creation and Procreation in Plato's Cosmology: A Reading of the ''Timaeus'']. Nova Iorque: State University of New York.</ref>

O autor hipocrático da obra ''[[Corpus Hippocraticum|Da Dieta]]'', que teria se inspirado em Anaxágoras, Empédocles e Heráclito,<ref>{{Citar periódico |url=https://www.cambridge.org/core/journals/classical-quarterly/article/imitating-the-cosmos-the-role-of-microcosmmacrocosm-relationships-in-the-hippocratic-treatise-on-regimen/392AD594A5BD5BBEFCC8B8E81FF21820 |titulo=Imitating the Cosmos: The Role of Microcosm–Macrocosm Relationships in the Hippocratic Treatise ''On Regimen'' |data=2018/05 |acessodata=2021-06-17 |jornal=The Classical Quarterly |número=1 |ultimo=Schluderer |primeiro=Laura Rosella |paginas=31–52 |lingua=en |doi=10.1017/S0009838818000149 |issn=0009-8388}}</ref><ref>Lebedev, Andrei V. (2014). [https://www.academia.edu/38274942/Reconstructing_the_book_of_Heraclitus_with_a_special_emphasis_on_Hippocratic_De_diaeta_book_I_The_Logos_of_Heraclitus_chapter_II_in_English_translation «Reconstructing the book of Heraclitus (with a special emphasis on Hippocratic ''De diaeta'', book I)»]. ''The Logos of Heraclitus. A Reconstruction of his Word and Thought (With a New Critical Edition of the Fragments)''. São Petersburgo: Nauka</ref> indica relação macrocosmo-microcosmo na [[fisiologia]] corporal:<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=stXzDwAAQBAJ&pg=PA169|título=Early Greek Philosophies of Nature|ultimo=Gregory|primeiro=Andrew|data=2020-10-01|editora=Bloomsbury Publishing|lingua=en}}</ref>{{Quote|"Tudo foi arranjado no corpo pelo fogo, de uma maneira adequada a si mesmo, em imitação do todo, do pequeno ao grande e do grande ao pequeno (''mikra pros megala kai megala pros mikra)''. O ventre é o maior, reservatório de água seca e úmida, dando a todos e tirando de todos, com a força do mar, as criaturas que lhe convêm, matando as que não convêm. A água fria e úmida está arranjada em torno disso, uma passagem para fôlego frio e fôlego quente, uma imitação da terra, que altera tudo o que nela cai."}}O ideal de homem perfeito na [[estética]] foi divulgado na arte grega por [[Policleto]] em sua obra ''Cânon'', que significa "norma" e refere-se à razão, justa medida, integrando para a imagem do corpo o significado que a palavra presume da lei cósmica. A partir disso, a quadratura era vista na escultura como proporção de molde. Isso influenciou [[Simônides]], citado também por Platão e Aristóteles, quando na ''Ode a Escopas'' caracterizou o homem perfeitamente bom como "''tetrágonos''" (posteriormente em latim, a noção do ''homo quadratus''): "quadrado em mãos e pés e mente, construído sem um defeito".<ref>Borowicz, Sebastian (2014). [http://31.186.81.235:8080/api/files/view/6847.pdf «An idea of man as a metaphysical figure in Greek Classical art»]. ''Miscellanea Anthropologica et Sociologica''. '''15''' (4): 70-91</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/filosofiaantiga/article/view/164823/158028 |titulo=Departing from Perfect Goodness? The ''tetragonōs'' and the ''hugiēs'' man in Plato’s Protagoras |data=2019-12-05 |acessodata=2021-06-28 |jornal=Journal of Ancient Philosophy |número=2 |ultimo=Irrera |primeiro=Elena |paginas=01–34 |doi=10.11606/issn.1981-9471.v13i2p01-34 |issn=1981-9471}}</ref><br/><br/>

Outra das primeiras ocorrências do termo "microcosmo" é vista em [[Aristóteles]], na passagem 252b de ''[[Física (Aristóteles)|Física]]'' VIII, em que ele expande a capacidade de [[Motor imóvel|início de movimento]] dos organismos biológicos ao cosmos como todo:<ref name=":10">{{citar livro|url=https://archive.org/details/dictionaryofhist0000unse_b7a8/page/126|título=Dictionary of the History of Ideas|ultimo=Boas|primeiro=George|editora=Charles Scribner's Sons|ano=1973|editor-sobrenome=Wiener, Philip P.|volume=III|local=Nova Iorque|capitulo=Macrocosm and Microcosm}}</ref><blockquote>“Se isso pode acontecer com uma coisa viva, o que impede que a mesma coisa aconteça com o universo? Se isso pode acontecer no pequeno mundo (''en mikrô kosmô''), pode acontecer no grande (''en megalô'')."<ref name=":9" /><br /></blockquote> 

No início da [[Período helenístico|era helenística]] foi novamente o estoicismo, em sua [[física estoica]], que concebeu o universo como um único grande organismo (que inclusive chamaram de ''mega zoon'', "grande animal"<ref name=":10" />), regulado por conexões íntimas entre suas partes ou συν-παθεία (''syn-pathèia''), ou seja, por um sentimento comum de [[compaixão]] que une o esfera sobrenatural com a humana, e em virtude da qual qualquer evento, mesmo o menor, repercute em todos os outros.<ref>Gramaglia, Pier Angelo (1982). ''Tertulliano. La testimonianza dell'anima''. Roma: Edizioni Paoline. p. 98. ISBN 88-215-0393-3.</ref> Nele o homem ocupa um lugar privilegiado, como participante ativo do Logos, que anima o universo e é a presença imanente do divino nos eventos do mundo, que é, portanto, um todo homogêneo, no qual não há espaços vazios. Contra o [[Epicurismo]], que explicava a realidade com base em meras [[Mecanicismo (filosofia)|leis mecânicas]], os estoicos afirmam a fluidez e a penetrabilidade dos corpos, que se condicionam:<blockquote>"[o Logos] atravessa todas as coisas mesclando-se com os grandes como com os pequenos astros luminosos."<br />—[[Cleantes de Assos|Cleantes]], Hino a Zeus<ref>Arnim, Hans Von (1903). ''Stoicorum veterum fragmenta'', I. Lípsia.</ref></blockquote>

As diferentes concepções da filosofia antiga foram finalmente retomadas e retrabalhadas por [[Plotino]], que recuperou, por exemplo, do estoicismo a consciência da interdependência entre todas as partes do universo:

{{Quote|"De tudo o que foi dito, parece que cada ser no universo, de acordo com sua natureza e constituição, contribui para a formação do universo com sua agência e passividade, da mesma forma que cada parte do animal individual, em razão de sua constituição natural, coopera com o organismo em seu inteiro, prestando aquele serviço que pertence ao seu papel e função. Além disso, cada parte dá de si e recebe das outras, na medida em que sua natureza receptiva o permita."<br />—Plotino, ''[[Enéadas]]'' IV, 4, 45}}

Plotino também retomou a noção de [[Anima mundi|Alma do Mundo]] do ''Timeu'' platônico, afirmando que "este universo é um único animal que contém em si todos os animais, tendo apenas uma Alma em todas as suas partes".<ref>Plotino, ''Enéadas'', IV, 4, 32.</ref> Plotino passa a ser portador de uma visão circular, com base na qual a Alma universal, nascida da emanação das [[hipóstase]]s anteriores ([[Um (filosofia)|Um]] e [[Nous|Intelecto]]), emana a alma humana individual que tem a possibilidade de retornar. É um ciclo que vai da processão à [[contemplação]]; da [[Necessidade (filosofia)|necessidade]] à [[liberdade]]: são dois polos complementares, os dois aspectos de uma mesma realidade.<ref>Severino, Emanuele (1996). ''La filosofia dai Greci al nostro tempo''. pp. 253-271. ''Il circolo nella filosofia di Plotino''. Milão: Rizzoli.</ref>

Os muitos são o reflexo do Um, "pois que cada um deles contém tudo em si e ao mesmo tempo vê tudo no outro, de modo que em todo lugar está tudo e cada coisa é tudo".<ref>Plotino, ''Enéadas'', V, 8.</ref> Para Plotino, a correspondência entre macrocosmo e microcosmo se dá pelo fato de que o mundo foi criado como um espelhamento intrínseco à natureza divina, que "necessariamente existe e não deriva de um ato de reflexão, mas de um ser superior que gera ''por natureza'' um ser semelhante a si mesmo".<ref>Plotino, ''Enéadas'', III, 2, 3.</ref> O Um, portanto, por um lado é [[Imanência|imanente]] no mundo, mas por outro lado é [[Transcendência (religião)|transcendente]].<ref>[[Giuseppe Faggin|Faggin, Giuseppe]] (1971). ''La presenza divina''. Messina, Firenze: D'Anna editrice. p. 23; conceito reafirmado por [[Giovanni Reale|Reale, Giovanni]] (2001). ''Il pensiero antico''. Milão: Vita e Pensiero. p. 454.</ref> Na verdade, só o homem tem a possibilidade do [[êxtase]], como o único ser livre capaz de redescobrir dentro de si a mesma estrutura hierárquica da qual se tece a realidade [[metafísica]].

O [[hermetismo]] também propõe o princípio da analogia ou equivalência, como encontrado nestes termos atribuídos ao lendário [[Hermes Trimegisto]] em um texto atribuído a ele, "''[[Tábua de esmeralda|A Tábua de Esmeralda]]''":<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=4gp-DwAAQBAJ&pg=PA80|título=Nature Loves to Hide: An Alternative History of Philosophy|ultimo=MacDonald|primeiro=Paul S.|data=2019-04-05|editora=Lulu.com|lingua=en}}</ref>
[[Ficheiro:Micro_Cosmo_in_Achamoth.JPG|miniaturadaimagem|305x305px|Macrocosmo e microcosmo no sistema [[Valentim (gnóstico)|valentiniano]] de [[Sofia (gnosticismo)|Achamoth]], representado por Robert Fludd como um conjunto de círculos [[Objetos concêntricos|concêntricos]] um dentro do outro, diferentes em tamanho, mas iguais em aparência]]
{{Tradução de verso|''Quod est inferius, est sicut quod est superius,
et quod est superius, est sicut quod est inferius:
ad perpetranda miracula rei unius.
Et sicut omnes res fuerunt ab uno, mediatione unius;
sic omnes res natae fuerunt ab hac una re, adaptatione.''|O que está abaixo é como o que está acima,
e o que está acima é como o que está abaixo,
para operar os milagres da realidade Una.
E uma vez que todas as realidades são e vêm de Um, através da mediação de Um,
então todas as realidades nascem desta realidade única por adaptação.}}

No [[gnosticismo]], com paralelos helenísticos como no judaísmo e hermetismo, encontram-se passagens com a analogia tal como no [[Evangelho de Tomé]] (''logia'' 22):<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=XbzpAukQIXgC&pg=PA124|título=The Kabbalistic Teachings of Jesus in the Gospel of Thomas|ultimo=Keizer|primeiro=Lewis|data=2010-12|editora=Lewis Keizer|lingua=en}}</ref>{{Quote|"Quando fizerdes um de dois, quando fizerdes a parte interna como a parte externa, a parte externa como a parte interna e a parte superior como a parte inferior, quando do masculino e feminino fizerdes um único ser para que haja não mais homem nem mulher [...] então entrareis no Reino"}}

=== Homem Universal ===
{{Artigo principal|Macrantropia}}[[Ficheiro:14 Rajaloka or Triloka, 17th century.png|esquerda|miniaturadaimagem|419x419px|Quatorze ''Rajlok'' ou Triloka. Formato do Universo conforme a [[cosmologia jainista]], na forma de um homem cósmico. Miniatura do século XVII em ''Saṁgrahaṇīratna'' por Śrīcandra, com comentários [[Svetambara|Śvetāmbara]] e ilustrações.]]
Paralelos no [[mitologema]] do Homem Cósmico ou Homem Universal são encontrados também como [[Purusha]] na [[Mitologia hindu|mitologia indiana]], [[Pangu]] na [[mitologia chinesa]], e posteriores em [[Ymir]] como gigante primordial na [[mitologia nórdica]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=e0YXAQAAMAAJ&q=%22purusha%22+%22ymir%22+%22Pangu%22+%22macrocosm%22+%22mythologema%22|título=Russian Studies in Philosophy|data=2001|editora=M.E. Sharpe, Incorporated|lingua=en}}</ref> e do "Homem Primordial" como [[Metatron]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=JT37DwAAQBAJ&pg=PA160&dq=%22primordial+man%22+%22metatron%22|título=The Son of Man in Myth and History|ultimo=Borsch|primeiro=Frederick Houk|data=2007-03-01|editora=Wipf and Stock Publishers|lingua=en}}</ref> e [[Adam Kadmon]] da [[Cabala]], sobre o que se afirma no ''[[Zohar]]'' (século XIII): "A forma do homem é a imagem de tudo o que está acima [no céu] e abaixo [na terra]; portanto, o Santo Ancião [Deus] o escolheu para sua própria forma".<ref>{{Citar web |ultimo=Ginzberg |primeiro=Louis |url=https://www.jewishencyclopedia.com/articles/761-adam-kadmon |titulo=Adam Ḳadmon |data=1906 |acessodata=2021-05-03 |publicado=Jewish Encyclopedia}}</ref>

No ''[[Bundahišn]]'', o criador [[Aúra-Masda|Ohrmazd]] é comparado a um [[pai]] e [[mãe]], e seu processo cósmico descrito com analogia [[Reprodução|reprodutiva]], de [[Embriogénese|concepção e crescimento do embrião]]:<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=r6SmDwAAQBAJ&pg=PT86|título=The Literature of Pre-Islamic Iran: Companion Volume I|ultimo=Macuch|primeiro=Maria|data=2008-10-31|editora=Bloomsbury Publishing|editor-sobrenome=Emmerick, Ronald E.; Macuch, Maria|lingua=en|capitulo=Pahlavi Literature}}</ref><blockquote>"A criação de Ohrmazd foi fomentada espiritualmente de tal maneira que permaneceu sem pensamento, sem toque, sem movimento em um estado úmido como o [[sêmen]]. Após esse estado úmido veio uma mistura como aquela de sêmen e sangue; após a mistura veio a concepção, como um feto; após a concepção veio a difusão, como mãos e pés; após a difusão veio a formação de cavidades—dos olhos, orelhas e boca; após a formação de cavidades veio o movimento, quando ela veio à luz. Mesmo agora na terra os homens desta forma crescem juntos no ventre de sua mãe, e nascem e são criados. Ohrmazd pelo ato da criação é pai e mãe para a criação; pois ao nutrir a criação na forma ideal, ele agiu como uma mãe; e ao criá-la materialmente, ele agiu como um pai".</blockquote>

==== Índia ====
A importância dos [[Ritual|rituais]] humanos levou a elaborações no [[hinduísmo]] que passaram a interpretá-los como atos simbólicos que reencenavam correspondências (''bandhu'') de macrocosmo e microcosmo. Assim, a partir dos [[Vedas]] (depois do final do II milênio a.C.), descrições como a de Purusha ressignificaram o [[sacrifício]], pois seu corpo teria sofrido um sacrifício primordial, por cujo autodesmembramento se explicaria a criação do universo, sua subsistência e destruição. Essa ação do ser humano foi transposta também a outros seres primordiais nas cosmologias, como um [[cavalo]] primordial na ''[[Brihadaranyaka Upanishad]]'' (c. século VI a.C.):<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=p1bASTAOhjoC&pg=PA54&dq=macrocosm+%22the+sun+his+eye,+the+wind+his+breath%22|título=Early Advaita Vedanta and Buddhism: The Mahayana Context of the Gaudapadiya-Karika|ultimo=King|primeiro=Richard|data=1995-01-01|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref>{{Quote|“Verdadeiramente, o amanhecer é a cabeça do cavalo sacrificial; o sol, seus olhos; o vento, sua respiração; o fogo universal sua boca aberta. O ano é o corpo (''ātman'') do cavalo sacrificial; o céu suas costas; a atmosfera seu estômago, ... as estrelas seus ossos, as nuvens sua carne."}}No [[jainismo]], representações dos reinos (''lokas'') do universo correspondem às partes do corpo de um Homem Cósmico, com o [[Monte Meru]] no meio.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=tfIKWYrGjVgC&pg=PA156|título=Light from the East: Eastern Wisdom for the Modern West|ultimo=Dhanani|primeiro=Lynna|data=2007|editora=World Wisdom, Inc|editor-sobrenome=Oldmeadow|editor-nome=Harry|lingua=en|capitulo=An Introduction to Jainism}}</ref>

==== China ====
Paralelismo cósmico antropocêntrico é encontrado nos conceitos do homem "cavalheiro" (''[[junzi]]'') no [[confucionismo]]<ref name=":8">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=U6t2UdyNkngC&pg=PA194|título=Spiritual Titanism: Indian, Chinese, and Western Perspectives|ultimo=Gier|primeiro=Nicholas F.|data=2000-03-31|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref> e do homem perfeito ou verdadeiro (''zhiren''/''zhenren'') no [[taoísmo]],<ref>Bokenkamp, Stephen R. (2005). [https://www.encyclopedia.com/environment/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/daoism-overview «Daoism: an overview»]. In: Jones, Lindsay (ed.) (2005). ''[https://books.google.com.br/books?id=7jIOAQAAMAAJ&q=%22The+perfect+human+is+thus+imagined+to+be+a+flawless+microcosm+of+the+cosmic+whole,+with+the+bodily+spirits+perfectly+attuned+to+their+counterparts+in+the+macrocosm%22 Encyclopedia of religion]'' (em inglês). '''4'''. [S.l.]: Macmillan Reference USA</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=R3Sp6TfzhpIC&pg=PA56|título=The Encyclopedia of Taoism|ultimo=Pregadio|primeiro=Fabrizio|data=2013-05-13|editora=Routledge|volume=1|lingua=en|capitulo=Macrocosm and microcosm}}</ref> que integram os atributos do Céu ([[Tian]]) ou [[Tao]], e do Rito, Ordem ou Lei ([[Li (confucionismo)|Li]]).<ref name=":8" /> O [[Neoconfucionismo|neoconfuciano]] [[Zhou Dunyi]] (1017–1073) escreveu:<ref>{{Citar periódico |url=https://www.researchgate.net/publication/306047725_Zhu_Xi's_completion_of_Confucius'_humanistic_ethics |titulo=Zhu Xi’s completion of Confucius’ humanistic ethics |data=2016-12-01 |acessodata=2021-06-17 |jornal=International Communication of Chinese Culture |número=4 |ultimo=Thompson |primeiro=Kirill O. |paginas=605–629 |lingua=en |doi=10.1007/s40636-016-0055-0 |issn=2197-4241}}</ref>{{Quote|"apenas a humanidade recebe [as cinco fases] em sua máxima excelência e, portanto, é a mais inteligente. A forma humana aparece e seu espírito desenvolve a consciência. As cinco virtudes da natureza humana (humanidade, justeza, propriedade ritual, sabedoria, fidelidade) são estimuladas por e responsivas a fenômenos no mundo e se envolvem em atividades, o bem e o mal são diferenciados, e os assuntos humanos são conduzidos. O Sábio lida com esses assuntos por meio da máxima propriedade, retidão, humanidade, justiça, considerando a quiescência como fundamental…. Consequentemente, o caráter do Sábio coincide com o do Céu e da Terra; sua perspicuidade combina com a do sol e da lua; sua ordem coincide com a das quatro estações"}}Desde as cosmologias han, há referência aos padrões "li" como encontrados na fratura natural dos veios das rochas de [[jade]], os quais, como linhas guias, já pré-estabeleciam uma ordem de seu corte. Essa noção de "padrões invisíveis" inerentes passou a ser utilizada para se referir aos caminhos de [[Qi|energia vital]], segundo a fisiologia de diversas escolas de [[filosofia chinesa]], e Li foi empregado por [[Mêncio]] e no [[taoismo]] para se referir também aos padrões do Céu, que são espelhados pelo praticante em espontaneidade e fluxo de não-ação ao se mover com o Caminho natural. Nas práticas de [[autocultivo]] e [[Neidan|alquimia interna]] taoistas, há homologia entre esse microcosmo de circulação do ''qi'' no organismo e mente e os padrões do Tao ou Céu.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/24392404 |titulo=THE CLASSICAL DAOIST CONCEPT OF LI 理 (PATTERN) AND EARLY CHINESE COSMOLOGY |data=2012 |acessodata=2022-09-07 |jornal=Early China |ultimo=Roth |primeiro=Harold D. |paginas=157–183 |issn=0362-5028}}</ref>

==== Budismo ====
[[Ficheiro:Vairochana Buddha from Balawaste.jpg|miniaturadaimagem|388x388px|Mural do buda cosmológico (''[[dharmadhātu]]''<ref>{{Citar web|url=https://teahouse.buddhistdoor.net/the-cosmos-inside-a-buddhas-body-the-iconography-and-presence-of-cosmological-or-dharmadhatu-buddhas/|titulo=The Cosmos Inside a Buddha’s Body – The Iconography and Presence of Cosmological or Dharmadhatu Buddhas|data=2022-06-30|website=Tea House|lingua=en-US}}</ref>) [[Vairocana]], [[Reino de Cotã]] (século VII-VIII). Em seu corpo, imagens cósmicas estão difusas, como o Sol no ombro direito e [[Lua crescente]] no ombro esquerdo.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.mdpi.com/2076-0787/7/4/92 |título=Images of the Crowned Buddha along the Silk Road: Iconography and Ideology |data=2018-12 |periódico=Humanities |número=4 |ultimo=Twist |primeiro=Rebecca L. |doi=10.3390/h7040092 |issn=2076-0787 |volume=7}}</ref> Enquanto Vairocana carrega o universo em seu corpo, como no ''[[Avatamsaka Sutra]]'', o [[Sidarta Gautama|buda histórico Xáquiamuni]] o reflete e é um receptáculo do cosmos, como no ''[[Sutra do Lótus]]'': "Como em um espelho puro e brilhante toda imagem é vista, da mesma forma o Bodisatva, em seu corpo puro, vê tudo no mundo. (...) Embora ainda não possua o corpo espiritual, místico e perfeito, ainda assim, em seu corpo puro e comum, tudo é revelado".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=zUFCAAAAIAAJ&pg=PA100|título=The Imagery of the Cosmological Buddha|ultimo=Howard|primeiro=Angela Falco|data=1986|editora=E. J. Brill|local=Leiden|lingua=en}}</ref>]]
Principalmente nas vertentes do [[budismo esotérico]], a imagem do macrocosmo-microcosmo é presente no conceito de [[Buda Primordial]] ou Cósmico.<ref>Reynolds, Frank E.; Hallisey, Charles (1987). [https://books.google.com.br/books?id=L74iAAAAYAAJ&q=%22+In+both+cases+the+pantheon+had+a+macrocosmic+reference+to+the+universe+as+a+whole+and+a+microcosmic+reference%22 "Bhudda"]. In Jones, Lindsay (ed.) (2005). ''Encyclopedia of religion'' (em inglês). '''2'''. [S.l.]: Macmillan Reference USA</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=eSbNDwAAQBAJ&pg=PA53|título=A Buddhist Theory of Semiotics: Signs, Ontology, and Salvation in Japanese Esoteric Buddhism|ultimo=Rambelli|primeiro=Fabio|data=2013-03-14|editora=Bloomsbury Publishing|lingua=en}}</ref> Na tradição [[Shingon]], [[Kukai]] (774–835) considera os "três mistérios" de fala, corpo e mente para fazer correspondências que espelhem a Mente, Fala e Corpo do Buda (Dainichi, o nome em japonês de [[Vairocana]]), os quais constituem todo o universo;<ref>{{Citar periódico |url=https://plato.stanford.edu/archives/fall2018/entries/kukai/ |titulo=Kūkai |data=2018 |acessodata=2021-05-03 |publicado=Metaphysics Research Lab, Stanford University |ultimo=Krummel |primeiro=John |editor-sobrenome=Zalta |editor-nome=Edward N.}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=kmCpDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA145|título=The Oxford Handbook of Japanese Philosophy|ultimo=Krummel|primeiro=John W. M.|data=2019|editora=Oxford University Press|editor-sobrenome=Davis|editor-nome=Bret W.|lingua=en|capitulo=Kūkai's Shingon. Embodiment of Emptiness}}</ref> e assim também no [[tantrismo]] búdico em geral, cujas tradições compartilham a ênfase nas práticas rituais de [[mudra]], [[mantra]] e [[mandala]] com eficácia cósmica.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=F0XNX3N1a2AC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA76&dq=esoteric+buddhism+mantra+mudra+mandala&hl=pt-BR|título=Esoteric Buddhism and the Tantras in East Asia|ultimo=Orzech|primeiro=Charles D.|ultimo2=Sørensen|primeiro2=Henrik|data=2011|editora=BRILL|editor-sobrenome=Orzech, Charles; Sørensen, Henrik; Payne, Richard|lingua=en|capitulo=''Mudrā'', Mantra and Mandala}}</ref> A correspondência entre mente e mundo foi presente também em suas poesias, como: "Em uma montanha no outono, encarando nuvens de chuva e comparando minha mente com o mundo".<ref>{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/26854470 |titulo=Mountain Buddhism and the Emergence of a Buddhist Cosmic Imaginary in Ancient Japan |data=2018 |acessodata=2021-05-03 |jornal=Japanese Journal of Religious Studies |número=1 |ultimo=Bushelle |primeiro=Ethan |paginas=1–36 |issn=0304-1042}}</ref> 

No [[budismo esotérico japonês]], com influência também sobre o [[Xintoísmo|Xintó]], discursos embriológicos faziam analogia de macrocosmo e microcosmo com o desenvolvimento da gestação e nascimento, adquirindo expressão metafísica nos [[Mandala do Útero|Mandalas do Útero]] e [[Mandala do Diamante|Diamante]]. Isso também é visto em descrições do retiro do deus sol [[Amaterasu]] na Caverna Celeste como descida da consciência (''[[vijñāna]]'') ou do ser intermediário (''antarabhāva'') no seio materno, e em ritos e sistemas de deificação da [[placenta]], que era considerada uma deidade protetora do feto sob os nomes de [[Kōjin]], [[Ugajin]] e [[Myōken]], os quais por sua vez eram associados à "[[Estrela Polar]]" do útero e "estrela de nascimento", em que deidades subterrâneas ou astrais, como a do [[Grande Carro]], vigiavam e controlavam o destino. O simbolismo tântrico de "vermelho e branco" referia-se também os fluidos menstruais e sêmen, que se fundem para formar o embrião nessa tradição japonesa, e se associavam às cores de Sol e Lua.<ref>Faure, Bernard (2 de maio de 2016). [https://www.academia.edu/23424495/Buddhism_Ab_Ovo_Aspects_of_Embryological_Discourse_in_Medieval_Japanese_Buddhism «Buddhism ''Ab Ovo'': Aspects of Embryological Discourse in Medieval Japanese Buddhism»]. ''[https://books.google.com.br/books?id=zyYiDAAAQBAJ&pg=PA311 Transforming the Void: Embryological Discourse and Reproductive Imagery in East Asian Religions]'' (em inglês). BRILL</ref>

No [[Dzogchen]], [[Longchenpa]] (1308–1363) também associou o corpo e mente com o universo.<ref>Germano, David Francis (1992). [https://pt.scribd.com/doc/120544847/Poetic-Thought-The-Intelligent-Universe-and-the-Mystery-of-SelfThe-Tantric-Synthesis-of-Dzogchen ''Poetic thought, the intelligent Universe, and the mystery of self: The Tantric synthesis of rDzogs Chen in fourteenth century Tibet'']. Madison: The University of Wisconsin.</ref> Na tradição [[Calachacra]], encontra-se a correspondência entre ciclos do [[tempo]] externos e internos,<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ei4tDQAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT17&dq=%22macrocosm%22+%22kalachakra%22&hl=pt-BR|título=Introduction to the Kalachakra Initiation|ultimo=Berzin|primeiro=Alexander|data=2011-03-16|editora=Shambhala Publications|lingua=en}}</ref> e no [[Tantras|tantra]] raiz é afirmado: "Como é com o mundo exterior, assim é com o mundo interior do homem".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=oi8tDQAAQBAJ&pg=PT172|título=The Practice of Kalachakra|ultimo=Mullin|primeiro=Glenn H.|data=1991-01-01|editora=Shambhala Publications|lingua=en}}</ref>

=== Arquitetura ===

==== Cidade ====
Em [[Anaximandro]] vê-se o que já fora atribuído como o primeiro modelo mecânico do cosmos, no qual a Terra possui um formato cilíndrico e se localiza ao centro, cercada por 3 anéis [[Toro (topologia)|toroides]] que contém, respectivamente, as estrelas no mais próximo, a lua e o sol. Isso possivelmente reflete uma analogia política, inspirada pela fundação da pólis na região do filósofo, a [[Jônia]], em que a [[ágora]] seria dela o elemento central e no meio da qual ocorria a dispersão dos poderes e a [[isonomia]]. As circunferências dos astros possuem comprimento e diâmetros em razões múltiplas de 3 em relação aos da Terra, assim também na distância de seus centros em relação proporcional ao raio da esfera da Terra. A estrutura social na pólis contava então com as três classes de aristocracia, classe média e campesinato. Assim como na ágora, a descrição do cosmos foi caracterizada como tendo justiça pela harmonia de forças e "direitos", com a Terra possui centralidade e repouso devido à sua semelhança aos poderes de seu círculo exterior e haver um equilíbrio dessas proporções triplas, na ausência de dominação. Além do mais, no centro da ágora haveria um elemento de [[Héstia]] em formato colunar, e, tal como a representação cilíndrica da pedra do "[[ônfalo]]", isso pode ser sugestivo para o formato cilíndrico e elevado da Terra.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/3654052 |titulo=On the Origin of Anaximander's Cosmological Model |data=1998 |acessodata=2021-06-28 |jornal=Journal of the History of Ideas |número=1 |ultimo=Naddaf |primeiro=Gerard |paginas=1–28 |doi=10.2307/3654052 |issn=0022-5037}}</ref>

Para [[Karl Kerényi]], a fundação de algumas cidades, em sua topologia e localização, reflete desejo de encenação mítica de uma "segunda criação" do cosmos, inaugurando-a como um centro do mundo. Ele vê como exemplo a lendária cerimônia da [[Roma]] ''quadrata'' e seus sulcos primordiais delimitantes, a construção simbólica de certos edifícios centrais ou então a fundação de cidades ao alto de montanhas.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=QmupDwAAQBAJ&pg=PT291|título=Pesquisa humanista da alma|ultimo=Kerényi|primeiro=Karl|data=2019-08-15|editora=Editora Vozes|lingua=pt-BR}}</ref> Assim:<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=5DLNW0T1eOoC&pg=PA12|título=Science of Mythology: Essays on the Myth of the Divine Child and the Mysteries of Eleusis|ultimo=Jung|primeiro=Carl Gustav|ultimo2=Kerényi|primeiro2=Karl|data=2002|editora=Psychology Press|lingua=en}}</ref>{{Quote|"Com a construção de um novo mundo em miniatura, imagem do macrocosmo, o fundamentalismo mitológico se traduz em ação: torna-se uma fundação. Cidades construídas em períodos que conheceram uma mitologia viva, e que se pretendem imagens do cosmos, são fundadas tal como os mitologemas cosmogônicos dão fundamento ao mundo, seus alicerces são lançados como se brotassem das duas ''archaí'' que mencionamos (a ''arché'' absoluta onde alguém começa e a ''arché'' relativa onde se torna a continuação de seus ancestrais). Assim, elas se baseiam no mesmo fundamento divino que o próprio mundo. Tornam-se o que o mundo e a cidade eram igualmente na antiguidade—a morada dos deuses."}}

==== Templos ====
<gallery mode="packed" heights="200">
Ficheiro:Sagrada Família, Columns.jpg|[[Nave (arquitetura)|Nave]] da [[Templo Expiatório da Sagrada Família|Basílica da Sagrada Família]], com pilares arborescentes e teto com [[paraboloide]]s hiperbólicos
Ficheiro:Illustration_by_David_Roberts,_digitally_enhanced_by_rawpixel-com_38.jpg|Ilustração do século XIX do pórtico do templo de Ísis em [[Filas]].
Ficheiro:Panoramic views of Borobudur.jpg|[[Borobudur]] (século IX), Indonésia
</gallery>A [[arquitetura sacra]] de templos pode assumir dimensões de microcosmo e refletir elementos simbólicos, como em [[geometria sagrada]], vista por exemplo no planejamento das proporções e formas na [[Catedral da Sagrada Família]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Tourism_Pilgrimage_and_Intercultural_Dia.html?id=K62rDwAAQBAJ|título=Tourism, Pilgrimage and Intercultural Dialogue: Interpreting Sacred Stories|ultimo=Vidal-Casellas|primeiro=Dolors|data=2019-06-21|editora=CABI|editor-sobrenome=Vidal-Casellas, Dolors; Aulet, Silvia; Crous-Costa, Neus|lingua=en|capitulo=The Symbolism of the Built Temple}}</ref> Uma possibilidade é a [[Arqueoastronomia|orientação astronômica]] da estrutura, como em alinhamento solar ao longo do eixo Leste-Oeste, encontrado entre diversas tradições, incluindo hindus, gregos e romanos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=Ds9DEAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA92&hl=pt-BR|título=Decoding Astronomy in Art and Architecture|ultimo=Dolan|primeiro=Marion|data=2021-09-17|editora=Springer Nature|lingua=en}}</ref> 

[[Templo egípcio|Templos egípcios]] eram simbólicos: um cercado ondulante e lago sagrado representavam as [[águas primordiais]] de [[Nun]], e seu espaço delimitado o separava do [[Isfet|caos]] exterior, de onde o universo e o próprio templo emergia. Representações celestes eram feitas no teto. Havia indicativos do motivo de nascimento e renascimento do mundo, como o movimento do Sol e das enchentes e recuos do [[rio Nilo]], formando um [[Benben|montículo primordial]]. Na entrada dos [[Hipostilo|salões hipostilo]] encontravam-se [[Arquitetura do Antigo Egito|colunas em formatos de lótus, papiro e palmeiras]]—um símile da flora local dos [[pântanos]] às margens dos rios—e as salas avançavam com escuridão cada vez maior até a um [[santo dos santos]] de uma divindade, reestabelecendo [[Maat]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=RleOthxciYoC&pg=PA8|título=Temples of Ancient Egypt|ultimo=Arnold|primeiro=Dieter|ultimo2=Haeny|primeiro2=Gerhard|ultimo3=Bell|primeiro3=Lanny|ultimo4=Finnestad|primeiro4=Ragnhild Bjerre|data=1997|editora=Cornell University Press|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=oEWZBAAAQBAJ&newbks=0&hl=pt-B|título=Ancient Egyptian Art and Architecture: A Very Short Introduction|ultimo=Riggs|primeiro=Christina|data=2014|editora=Oxford University Press|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=WYyTDAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT337&hl=pt-BR|título=Ancient Near Eastern History and Culture|ultimo=Jr|primeiro=William H. Stiebing|data=2016-07-01|editora=Routledge|lingua=en}}</ref> 

O templo de [[Borobudur]] assume um formato de [[Lótus sagrado na arte religiosa|lótus]] e é uma representação microcósmica do mundo em seus níveis, permitindo ao peregrino traçar um caminho mandálico com painéis, imagens de Budas e galerias que diminuem de tamanho conforme sobe um percurso espiral ascendente, até uma [[estupa]] central.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=D1pcAgAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT176&hl=pt-BR|título=Encyclopedia of Buddhism|data=2013-12-16|editora=Routledge|editor-sobrenome=Keown, Damien; Prebish, Charles S.|lingua=en|capitulo=Borobudur}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=Y53pT_gGE_0C&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA78&hl=pt-BR|título=Buddhist Symbolism in Tibetan Thangkas: The Story of Siddhartha and Other Buddhas Interpreted in Modern Nepalese Painting|ultimo=Meulenbeld|primeiro=Ben|data=2001|editora=Binkey Kok|lingua=en}}</ref>

=== Topografia literária ===
Algumas estruturas literárias podem propositalmente ter sido compostas de maneira que um livro servisse de análogo microcósmico, ou pelo menos há comentaristas que alegam a suposta presença de organicismo universal visto nos padrões de algumas obras. Uma teoria assim foi desenvolvida por exemplo entre os neoplatônicos, cuja abordagem da forma do texto impactou a história da [[crítica literária]] subsequente. Alguns indicativos disso são vistos em antecedentes, como em um comentário de [[Olimpiodoro]]:<ref name=":11">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=7rB0NBqsaSMC&pg=PA95&lpg=PA95&dq=%22microcosm%22|título=The Literary Microcosm: Theories of Interpretation of the Later Neoplatonists|ultimo=Coulter|primeiro=James A.|data=1976|editora=BRILL|lingua=en}}</ref><blockquote>"Como ele [Platão] diz no ''[[Fedro (diálogo)|Fedro]]'', 'Uma composição literária deve se parecer com uma coisa viva.' Consequentemente, a composição mais bem construída deve se parecer com os nobres das coisas viventes. E com a coisa vivente mais nobre. Consequentemente, assim como o cosmos é um prado cheio de todos os tipos de coisas vivas, então, também, uma composição literária deve ser completa de personagens de cada descrição."</blockquote>E nos ''Prolegômenos Anônimos'':<ref name=":11" /><blockquote>"Devemos agora mencionar as razões pelas quais Platão usou essa forma literária. Ele a escolheu, dizemos, porque o diálogo é uma espécie de cosmos. Pois, da mesma forma que um diálogo tem personagens diferentes, cada um falando em seu caráter, o universo compreende existências de vária natureza que se expressam de várias maneiras; pois a expressão de cada uma é de acordo com sua natureza. Foi por imitação, então, que ele fez isso."</blockquote>

=== Idade Média ===
A [[filosofia medieval]] foi geralmente dominada por [[Aristotelismo|Aristóteles]], que apesar de ter sido um dos primeiros a cunhar o termo "microcosmo",<ref>{{Harvnb|Kraemer|2007|p=178}}.</ref> postulou uma diferença fundamental e intransponível entre a região abaixo da lua (o [[Esfera sublunar|mundo sublunar]], composta pelos [[Elementos clássicos|quatro elementos]]) e a região acima da lua (o mundo superlunar, consistindo em um [[Éter (elemento)|quinto elemento]]). Não obstante, a analogia microcosmo-macrocosmo foi adotada por uma ampla variedade de pensadores medievais que trabalhavam em diferentes tradições linguísticas: o conceito de microcosmo era conhecido em [[Língua árabe|árabe]] como ''ʿālam ṣaghīr'', em [[Língua hebraica|hebraico]] como ''olam katan'' e em [[latim]] como ''microcosmus'' ou ''minor'' ''mundus''.<ref>{{Harvnb|Kraemer|2007|p=178}}; sobre a terminologia latina, ver {{Harvnb|Finckh|1999|p=12}}.</ref> A analogia foi elaborada por [[alquimista]]s como aqueles que escreveram sob o nome de [[Jabir ibne Haiane]] (c. 850–950 EC),<ref>{{Harvnb|Kraus|1942–1943|loc=vol. II, pp. 47, 50}}.</ref> pelos filósofos [[Xiismo|xiitas]] anônimos conhecidos como [[Enciclopédia dos irmãos da pureza|Ikhwān al-Ṣafāʾ]] ("Os Irmãos da Pureza", c. 900-1000),<ref>Ver {{Harvnb|Widengren|1980}}; {{Harvnb|Nokso-Koivisto|2014}}; {{Harvnb|Krinis|2016}}.</ref> por teólogos e filósofos judeus como [[Isaac Israeli Ben Solomon|Isaac Israeli]] (c. 832–932), [[Saadia Gaon]] (882/892–942), [[Salomão ibne Gabirol|Ibn Gabirol]] (século XI) e [[Yehudah Halevi|Judá Halevi]] (c. 1075–1141),<ref name="Não_nomeado-x_Q--1"/> pelo místico [[Al-Andalus|andaluz]] [[Ibn Arabi]] (1165–1240),<ref>{{Harvnb|Aminrazavi|2009–2021}}.</ref> e pelo cardeal alemão [[Nicolau de Cusa]] (1401–1464).<ref>{{Harvnb|Miller|2009–2017}}.</ref>

=== Cristianismo ===
[[Ficheiro:Cross_and_stars.jpg|miniaturadaimagem|Cúpula do [[Mausoléu de Gala Placídia]], onde a [[Cruz cristã|cruz]], rodeada por um conjunto concêntrico de estrelas, assume uma função centralizadora e sintetizadora do cosmos]]{{VT|Cristo cósmico}}
Essas correntes eram apenas parcialmente aceitas no [[cristianismo]], que descrevia o homem à imagem e semelhança de [[Deus]], isto é, do Criador, mas excluía por isso mesmo uma mistura com os elementos da criação, como afirma, por exemplo, [[Gregório de Níssa|Gregório de Nissa]].<ref>«Em que consiste a grandeza do homem, segundo a Igreja? Não em semelhança com o cosmos, mas em ser a imagem do Criador de nossa natureza" (Gregório, ''De hominis opificio'', cap. 16. In Salmona, Bruno (2000). ''L'uomo''. Città Nuova. p. 73</ref> No entanto, isso não significa que as formas de analogia foram negadas a fim de tentar explicar a realidade imanente conectando-a com o transcendente. É considerado que o próprio [[Paulo de Tarso]] influenciou a consideração de macrocosmo-microcosmo pelo trecho em [[Epístola aos Romanos|Romanos]] 1:20:<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vwbg_Y74cFgC&pg=PA20&dq=%22paul%22+%22macrocosm%22|título=German Mysticism From Hildegard of Bingen to Ludwig Wittgenstein: A Literary and Intellectual History|ultimo=Weeks|primeiro=Andrew|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=xvx5DwAAQBAJ&pg=PA61&dq=%22paul%22+%22macrocosm%22|título=In Search of 'Kynde Knowynge': Piers Plowman and the Origin of Allegory|ultimo=Kasten|primeiro=Madeleine J. A.|data=2007-01-01|editora=BRILL|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Jp9gAgAAQBAJ&pg=PA31|título=Aurora (Morgen Röte im auffgang, 1612) and Fundamental Report (Gründlicher Bericht, Mysterium Pansophicum, 1620): Translation, Introduction, Commentary.|ultimo=Weeks|primeiro=Andrew|data=2013-11-29|editora=BRILL|lingua=en}}</ref> “De fato, desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, tais como o seu poder eterno e sua divindade, podem ser entendidas e contempladas nas obras que esse realizou. Os homens, portanto, não têm desculpas.”;<ref>{{Citar web |url=https://biblehub.com/interlinear/romans/1-20.htm |titulo=Romans 1:20 Interlinear: for the invisible things of Him from the creation of the world, by the things made being understood, are plainly seen, both His eternal power and Godhead -- to their being inexcusable; |acessodata=2021-04-19 |website=biblehub.com}}</ref> e que afirmou uma correlação entre [[Cosmogonia|cosmogênese]] e [[Ontogenia|ontogênese]] (isto é, entre a evolução do mundo e a evolução do homem) com analogia de gestação materna em [[Romanos 8]]:18-27:<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&id=QlzPq406KxUC&focus=searchwithinvolume&q=macrocosm|título=A Theological Anthropology|ultimo=Balthasar|primeiro=Hans Urs von|data=1967|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=XEj7DwAAQBAJ&pg=PA17&dq=%22paul%22+%22macrocosm%22|título=The Divine Feminine: The Biblical Imagery of God as Female|ultimo=Mollenkott|primeiro=Virginia Ramey|data=2014-01-01|editora=Wipf and Stock Publishers|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=VPO4POTRD44C&pg=PA39&dq=%22paul%22+%22macrocosm%22|título=The Paul Quest: The Renewed Search for the Jew of Tarsus|ultimo=Witherington III|primeiro=Ben|data=2001-10-22|editora=InterVarsity Press|lingua=en}}</ref>
[[Ficheiro:Hildegard_von_Bingen_Liber_Divinorum_Operum.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|O Homem Universal, por [[Hildegarda de Bingen]] em ''Liber Divinorum Operum'' (1165)]]
<blockquote>"Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme conjuntamente (''systenazei'') e está juntamente com dores de parto (''synōdinei'') até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando por [nossa] adoção como filhos, a saber, a redenção do nosso corpo."<ref>{{Citar web |url=https://biblehub.com/interlinear/romans/8-22.htm |titulo=Romans 8:22 Interlinear: for we have known that all the creation doth groan together, and doth travail in pain together till now. |acessodata=2021-04-19 |website=biblehub.com}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/8/19-23+ |titulo=Romanos 8 - ACF - Almeida Corrigida Fiel - Bíblia Online |acessodata=2021-04-19 |website=www.bibliaonline.com.br}}</ref></blockquote>Caberá, pois, sobretudo a [[Agostinho de Hipona]], recuperando muito da [[Platonismo|tradição platônica]] e [[Neoplatonismo|neoplatônica]], sustentar a ideia de um gradualidade progressiva entre os bens inferiores e o Bem Absoluto, uma "[[Comensurável|comensurabilidade]]" entre a perfeição divina e a imperfeição.<ref>Concepção que se repete explicitamente em várias de suas afirmações, por exemplo: “Tudo é bom, mesmo o que está corrompido, mas não no mais alto grau" (''De vera religione'', XIX, 37).</ref>

É aparentemente com [[João Damasceno]] que surge a primeira instância do termo "microcosmo" unido agora em uma única palavra, ao invés de duas:<ref name=":12" /><blockquote>"O homem, portanto, é um ''mikrokosmos''. Pois ele tem uma alma e um corpo, e ele ocupa uma posição intermediária entre a inteligência e a matéria. Portanto, ele é um elo entre as criações visíveis e invisíveis, entre aquela criação que é dotada apenas com sensopercepção e aquela criação que é dotada de inteligência"</blockquote>No século XII, o neoplatônico [[Bernardo Silvestre]], vinculado à [[Escola de Chartres]], compôs o poema ''Megacosmus et Microcosmus''. Em seu interior são mencionadas figuras da mitologia pagã, como a deusa [[Urânia]] e o criador [[Tetramorfos|Pantomorfo]], substituindo o [[Demiurgo]] do ''Timeu''.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.it/books?id=tjxAMYawu7IC&pg=PA411&lpg=PA411|título=From Athens to Chartres: Neoplatonism and Medieval Thought : Studies in Honour of Edouard Jeauneau|ultimo=Jeauneau|primeiro=Édouard|ultimo2=Westra|primeiro2=Haijo Jan|editora=Brill|ano=1992}}</ref>

=== Renascença ===
[[Ficheiro:Anatomical_Man.jpg|miniaturadaimagem|Correspondência entre as partes anatômicas do homem (microcosmo) e os signos do zodíaco (macrocosmo)]]
O renascimento do [[hermetismo]] e do [[neoplatonismo]] na [[Renascimento|Renascença]], ambos os quais reservaram um lugar de destaque para a analogia microcosmo-macrocosmo, também levou a um aumento acentuado na popularidade desta última. Alguns dos proponentes mais notáveis do conceito neste período incluem [[Marsílio Ficino|Marsilio Ficino]] (1433–1499), [[Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim|Heinrich Cornelius Agrippa]] (1486–1535), [[Francesco Patrizi]] (1529–1597), [[Giordano Bruno]] (1548–1600) e [[Tommaso Campanella]] (1568–1639).<ref>Ver a discussão em {{Harvnb|Allers|1944|pp=386–401}}.</ref> Também foi fundamental para as novas teorias médicas propostas pelo médico suíço [[Paracelso]] (1494–1541) e seus muitos [[Paracelsianismo|seguidores]], principalmente [[Robert Fludd]] (1574–1637).<ref>{{Harvnb|Debus|1965|loc=pp. 19, 41-42, 86, 114-123, ''et passim''}}.</ref>

O [[Condição humana|ser humano]], concebido como um microcosmo no qual o macrocosmo se reflete, foi visto como um conjunto de partes que se combinam para formar um todo orgânico, cada uma das quais associada, por exemplo, a um determinado [[Planetas na astrologia|planeta]] ou a um determinado [[metal]].<ref>Eugenia Casini-Ropa, Francesca Bortoletti, ''Danza, cultura e società nel Rinascimento italiano'', pag. 45, Ephemeria, 2007.</ref> A correspondência qualitativa entre o grande e o pequeno, onde um era levantado como [[símbolo]] do outro, foi a base da [[magia renascentista]] e em particular da [[astrologia]], que exigia a capacidade de perceber, reconhecer e interpretar a [[analogia]] oculta nesses símbolos e, portanto, de se relacionar os planetas, signos e casas com personagens, animais, metais, cores, identificados com base em seu valor psicológico.

A [[filosofia do Renascimento]] está toda permeada da tensão sobre o Um: busca-se um conhecimento unitário, orgânico, coerente, que atue como elo entre todos os saberes do saber humano e que saiba trazer a multiplicidade de volta à unidade, a diversidade em identidade. Numerosas disciplinas como [[matemática]], [[geometria]], [[numerologia]], [[astronomia]], que estão interligadas e todas visam interpretar a realidade em uma chave simbólica e unitária, recebem um grande impulso. A busca da [[pedra filosofal]] pelos [[alquimista]]s, por exemplo, parte da crença de que todos os elementos do universo vêm de uma única substância original ([[quintessência]]), que agora se tenta reproduzir em laboratório por meio da criação de um agente [[catalisador]].<ref>Partini, A. M. (200/2001). "Introduzione all'alchimia"''. Simmetria'' (3)</ref>

Segundo o neoplatônico [[Nicolau de Cusa]], o indivíduo humano, apesar de ser uma pequena parte do mundo, é uma totalidade em que todo o universo está contraído.<ref>O termo "contração" é adquirido de [[Duns Escoto]], que definiu-a como a determinação de uma substância comum, por exemplo a do "homem", em uma única realidade, isto é, em uma determinada pessoa.</ref> O homem é de fato a imagem de Deus, que é a ''implicatio'' de todo [[Ser]] como na [[Um|unidade numérica]] estão potencialmente implícitos todos os números, enquanto o Universo é a ''explicatio'' do Ser'','' ou seja, a manifestação do que está presente em [[Potencialidade e atualidade|potência]] na unidade. O homem é, portanto, um microcosmo, um deus humano. Cusano veio assim, ao contrário da concepção aristotélica, a conceber o universo sem limites espaciais e, portanto, sem uma circunferência que o delimitasse, afirmando que a Terra não pode ser o centro do [[universo]], sendo este ilimitado, enquanto é [[Deus]], assimilado ao [[Sol (astrologia)|Sol]], que constitui seu [[centro]] e, ao mesmo tempo, sua [[circunferência]]. Essa visão dupla (''complicatio'' e ''explicatio'') será assumida por [[Giordano Bruno]], que reinterpretará o Um ora em um sentido transcendente ("Mens super omnia"), ora em um sentido imanente ("Mens insita omnibus"), identificando-o com a totalidade do universo, que assim é todo vivo e animado como um grande e gigantesco organismo, cuja complexidade e multiplicidade derivam da articulação harmoniosa de um princípio simples e imediato.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=3CPZAAAAMAAJ&q=%22la+sua+concezione+della+Natura%22|título=Enciclopedia cattolica|data=1952|editora=Ente per l'Enciclopedia cattolica e per il Libro cattolico|lingua=it}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=OzCODgAAQBAJ&pg=PA25|título=Filosofia umanistico-rinascimentale|ultimo=Martini|primeiro=Marco|editora=Lulu.com|lingua=it}}</ref>
[[Ficheiro:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg|miniaturadaimagem|''O [[Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)|Homem Vitruviano]], Estudo da proporcionalidade de um corpo humano'' ([[Leonardo da Vinci]], cerca de [[1500]], Veneza, [[Accademia|Gallerie dell'Accademia]]): inscrito em um [[quadrado]] (conforme Platão, símbolo do elemento [[Terra (elemento)|terra]]) e em um [[círculo]] (símbolo do cosmos como todo), torna-se um símbolo da correspondência matemática entre microcosmo e macrocosmo.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=MzRKAQAAIAAJ&q=vitruvian+man+macrocosm+%22|título=Squaring the Circle: Geometry in Art and Architecture|ultimo=Calter|primeiro=Paul|data=2008-06-10|editora=Wiley|lingua=en}}</ref>]]
[[Ficheiro:Nautilus_Shell.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Um exemplo de [[espiral áurea]] presente na concha de um determinado [[Nautilus (gênero)|molusco]], cuja estrutura aumenta progressivamente de tamanho, mantendo a mesma forma original.]]
O desejo de pesquisar as leis que regem os grandes e os pequenos veio em particular do estudo da [[proporção áurea]], incorporada por [[Leonardo da Vinci]] em várias de suas obras-primas, incluindo o [[Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)|Homem Vitruviano]].<ref>[http://www.webalice.it/oasis787/aurea.html Sezione aurea] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20150402154051/http://www.webalice.it/oasis787/aurea.html|date=2 de abril de 2015}}</ref> Era um tipo específico de relação entre uma quantidade e uma parte dela (correspondendo a 1,6180 e representado pelo grego [[Φ]]), à qual [[Leonardo Fibonacci]] já havia aproximado pela [[Sequência de Fibonacci|série numérica]] que descobriu, de modo que a relação entre o todo e a parte é o mesma que entre a maior e a menor parte, repetindo-se indefinidamente.

A proporção áurea, teorizada por [[Luca Pacioli]] como um ideal de beleza na ''Divina Proportione'', já utilizada na [[Arquitetura da Grécia Antiga|arquitetura grega]], na construção de [[Arquitetura da Idade Média|igrejas medievais]], nas [[Arte renascentista|pinturas renascentistas]], tornou-se um emblema da relação existente entre macrocosmo e microcosmo como encontrada na natureza, por exemplo das pétalas das flores às formas anatômicas humanas, da geometria das folhas às estrelas do mar e, sobretudo, nos [[Fractal|fractais]].<ref name=":2">Corbalàn, Fernando (2015). ''La sezione aurea''. Mondo Matematico. pp. 125-141.</ref>

=== Romantismo ===
O [[romantismo]] mediou e retomou através da [[Mônada (filosofia)|mônada]] [[Leibniz|leibniziana]], e outras tradições mágico-alquímicas mais ocultas,<ref>Gibbons, Brian J. (2004). ''Spiritualità e occulto. Dal Rinascimento all'età moderna''. Edizioni Arkeios. pp. 31-32.</ref> a antiga representação do princípio segundo o qual a mesma complexidade que é encontrada no macrocosmo é encontrada em cada menor parte que o constitui, no mesmo microcosmo. [[Johann Wolfgang von Goethe|Goethe]] é particularmente responsável pelo renascimento dos temas herméticos,<ref>Gray, R. D. (1952). ''Goethe the Alchemist''. Cambridge University Press.</ref> que, em forma subterrânea, continuaram a exercer suas influências até o século XVIII. No estudo da natureza, Goethe recupera o predomínio de duas forças: uma da [[sístole]], ou seja, da concentração em uma entidade individual (microcosmo), e uma da [[diástole]], que é de expansão ilimitada (macrocosmo);<ref>Freschi, Marino (1999). ''Goethe: l'insidia della modernità''. Donzelli Editore. p. 38.</ref> ciente de sua correspondência, ele sempre tentou decifrar os fenômenos da natureza nos termos [[Alma|anímicos]] do sentimento humano e vice-versa, como em sua ''[[Teoria das Cores (livro)|Teoria das Cores]]'', no qual em contraste com o reducionismo newtoniano ele explicava o mundo através do homem, e o homem através do mundo.<ref>Giorgi, F. (2004). ''[http://www.ospi.it/ospi/Tutti%20gli%20articoli/Sofianismo%20e%20goetheanismo.doc Sofianismo e goetheanismo] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20060514124435/http://www.ospi.it/ospi/Tutti%20gli%20articoli/Sofianismo%20e%20goetheanismo.doc|date=14 de maio de 2006}}''</ref> Por exemplo, ele instituiu uma analogia entre o olho e o sol, segundo um eco plotiniano:<ref>Goethe, Johann Wolfgang von (1810). Introdução de ''Teoria das Cores''. Troncon, R. (2008). ''La teoria dei colori''. Saggiatore. p. 14.</ref>

{{Tradução de verso|Wär' nicht das Auge sonnenhaft,
wie könnten wir das Licht erblicken?
Lebt' nicht in uns des Gottes eigne Kraft,
wie könnt' uns Göttliches entzücken?|Se o [[olho]] não fosse [[Sol (astrologia)|solar]],
como poderíamos ver [[luz (filosofia)|luz]]?
Se não vivesse em nós a força própria de Deus,
como poderia nos deleitar o divino?}}
(Plotino já havia afirmado que "nenhum olho jamais viu o sol sem se tornar semelhante ao sol, nem uma alma pode ver a beleza sem se tornar bela")<ref>Plotino, ''Enéadas'' I, 6, 9</ref>

No ensaio ''Bedeutende Fördernis durch ein einziges geistreiches Wort'', Goethe afirma: "o ser humano se conhece apenas na medida em que conhece o mundo; ele percebe o mundo apenas em si mesmo, e a si mesmo apenas no mundo".<ref name=":1" />

Filosoficamente, a relação entre o grande e o pequeno foi interpretada por [[Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling|Schelling]] em termos de [[Polaridade (filosofia)|polaridade]]. O [[Um (filosofia)|Uno]], de fato, desempenhando a sua actividade num [[dualismo]] Espírito/Natureza que permeia toda a realidade, permanecendo [[Transcendência (filosofia)|acima dela]], estabelece com a multiplicidade uma relação [[dialética]] que se repete em todos os graus, replicando ao infinito a relação existente com Todo e sua parte. Um e múltiplo são dois polos opostos, mas complementares, cada um dos quais não pode existir sem o segundo, e dos quais um é a potência do outro. A peculiaridade dessas duas forças antitéticas (+ / -) consiste no fato de que a positiva (atração) configura a realidade como Una, enquanto a negativa (repulsão) a configura como múltipla e polarizada, de modo que cada polo se tornará por sua vez a união de um "+" e um "-", em uma escala decrescente gradativa. O Um é encontrado nos muitos, e os muitos são facetas infinitas do Um.<ref>Schelling, F. (1802). ''Bruno, ovvero il principio divino e naturale delle cose''.</ref>

== Cultura contemporânea ==
[[Ficheiro:KochSnowGif16_800x500_2.gif|miniaturadaimagem|[[Curva de Koch|Curva fractal de Koch]] ou "floco de neve"]]
Apesar da separação entre [[ciência]] e [[teologia]], com a exclusão do [[simbolismo]] do horizonte epistemológico do conhecimento, ele permaneceu como uma abordagem puramente metodológica na formulação de hipóteses.<ref>Fano; Vincenzo; Tarozzi, G.; Stanzione, Massimo (2001). ''Prospettive della logica e della filosofia della scienza''. Rubbettino Editore. pp. 192-4.</ref>

No campo matemático, o estudo de [[Benoît Mandelbrot]] sobre os [[Fractal|fractais]] repropôs o modelo holístico de repetição de [[padrões]], ou seja, do mesmo paradigma holográfico, tanto no macro quanto no microcosmo:<ref>Montecucco, Nitamo F. (2000). ''Cyber. La visione olistica. Una scienza unitaria dell'uomo e del mondo''. Mediterranee. p. 100.</ref> sendo objetos geométricos com [[Homotetia|homotética interna]], os fractais se repetem na sua forma da mesma forma em diferentes escalas e, portanto, ampliando qualquer parte, obtém-se uma figura semelhante à original, devido à característica conhecida como [[autossimilaridade]] ou autossemelhança. A este respeito, cabe ao sueco [[Helge von Koch]], no início do século XX, a descrição de uma das primeiras figuras fractais.<ref name=":2" />

== Ver também ==

* [[Assim acima, como abaixo]]
* ''[[Axis mundi]]''
*[[Correspondência (teologia)]]
* [[Imago Dei|Imagem de Deus]]
* [[Panpsiquismo]]
* [[Arquétipo]]
{{Referências}}

== Bibliografia ==

* {{Citar enciclopédia |ultimo=Aminrazavi |primeiro=Mehdi |url=https://plato.stanford.edu/archives/spr2021/entries/arabic-islamic-mysticism/ |titulo=Mysticism in Arabic and Islamic Philosophy |ano=2009–2021 |editor-sobrenome=Zalta |enciclopédia=The Stanford Encyclopedia of Philosophy ''(Spring 2021 Edition)''}}
* {{Citar livro|título=The English Paracelsians|ultimo=Debus|primeiro=Allen G.|editora=Oldbourne|ano=1965|localização=London|isbn=9780444999610|autorlink=Allen G. Debus}}
* {{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/1508803 |titulo=Persische weisheit in griechischem gewande? |ultimo=Duchesne-Guillemin |primeiro=Jacques |autorlink=Jacques Duchesne-Guillemin |ano=1956 |paginas=115–122 |volume=49 |journal=Harvard Theological Review}}
* {{Citar livro|título=La Révélation d'Hermès Trismégiste|ultimo=Festugière|primeiro=André-Jean|editora=Gabalda|ano=1944–1954|series=Vol. I-IV|localização=Paris|isbn=9782251326740|autorlink=André-Jean Festugière}}
* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=n7d-ZEQ5spIC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false|título=Minor Mundus Homo: Studien zur Mikrokosmos-Idee in der mittelalterlichen Literatur|ultimo=Finckh|primeiro=Ruth|editora=Vandenhoeck & Ruprecht|ano=1999|localização=Göttingen|isbn=3-525-20579-1}}
* {{Citar periódico |url=http://menadoc.bibliothek.uni-halle.de/dmg/periodical/titleinfo/152131 |titulo=Persische Weisheit in griechischem Gewande: Ein Beitrag zur Geschichte der Mikrokosmos-Idee |ultimo=Götze |primeiro=Albrecht |autorlink=Albrecht Goetze |ano=1923 |paginas=60–98, 167–177 |volume=2 |journal=Zeitschrift für Indologie und Iranistik}}
* {{Citar periódico |titulo=Kosmos und Mensch in der Vorstellung frühen Griechentums |ultimo=Kranz |primeiro=Walther |autorlink=Walther Kranz |ano=1938 |paginas=121–161 |oclc=905422149 |volume=2 |journal=Nachrichten von der Gesellschaft der Wissenschaften zu Göttingen, Philologisch-historische Klasse}}
* {{Citar livro|título=Jâbir ibn Hayyân: Contribution à l'histoire des idées scientifiques dans l'Islam. I. Le corpus des écrits jâbiriens. II. Jâbir et la science grecque|ultimo=Kraus|primeiro=Paul|editora=[[Institut Français d'Archéologie Orientale]]|ano=1942–1943|localização=Cairo|isbn=9783487091150|oclc=468740510|autorlink=Paul Kraus (Arabist)}}
* {{Citar enciclopédia |ultimo=Miller |primeiro=Clyde Lee |url=https://plato.stanford.edu/archives/sum2017/entries/cusanus/ |titulo=Cusanus, Nicolaus [Nicolas of Cusa] |ano=2009–2017 |editor-sobrenome=Zalta |enciclopédia=The Stanford Encyclopedia of Philosophy ''(Summer 2017 Edition)''}}
* {{Citar tese|ano=2014|url=http://hdl.handle.net/10138/136006|titulo=Microcosm-Macrocosm Analogy in Rasāʾil Ikhwān aṣ-Ṣafāʾ and Certain Related Texts|universidade=Universidade de Helsinki|nome1=Inka|sobrenome1=Nokso-Koivisto}}
* {{Citar enciclopédia |ultimo=Raphals |primeiro=Lisa |url=https://plato.stanford.edu/archives/win2020/entries/chinese-phil-medicine/ |titulo=Chinese Philosophy and Chinese Medicine |ano=2015–2020 |editor-sobrenome=Zalta |enciclopédia=The Stanford Encyclopedia of Philosophy ''(Winter 2020 Edition)''}}
* {{Citar livro|título=Philo of Alexandria and the ''Timaeus'' of Plato|ultimo=Runia|primeiro=David T.|editora=Brill|ano=1986|localização=Leiden|isbn=978-90-04-07477-4|autorlink=David T. Runia}}
* {{Citar periódico |titulo=Imitating the Cosmos: The Role of Microcosm-Macrocosm Relationships in the Hippocratic Treatise On Regimen |ultimo=Schluderer |primeiro=Laura Rosella |ano=2018 |paginas=31–52 |doi=10.1017/S0009838818000149 |volume=68 |doi-access=free |journal=Classical Quarterly}}
* {{Citar livro|url=https://journal.fi/store/article/view/52278/16210|título=Case Studies in Transmission. The Intellectual Heritage of the Ancient and Mediaeval Near East, 1|ultimo=Svärd|primeiro=Saana|ultimo2=Nokso-Koivisto|primeiro2=Inka|editora=Ugarit-Verlag|ano=2014|editor-sobrenome=Lindstedt|localização=Münster|páginas=159–187|capitulo=The Microcosm-Macrocosm Analogy in Mesopotamian and Mediaeval Arabic History of Science|isbn=978-3-86835-124-8|editor-sobrenome2=Hämeen-Anttila|editor-sobrenome3=Mattila|editor-sobrenome4=Rollinger}}
* {{Citar periódico |titulo=Macrocosmos-microcosmos speculation in the Rasa’il Ikhwan al-safa and some Hurufi texts |ultimo=Widengren |primeiro=G. |ano=1980 |paginas=297–312 |volume=48 |journal=Archivio di filosofia}}
* {{Citar livro|título=Plotinus’ Cosmology: A Study of Ennead II.1 (40). Text, Translation, and Commentary|ultimo=Wilberding|primeiro=James|editora=Oxford University Press|ano=2006|localização=Oxford|isbn=9780199277261}}

== Leitura adicional ==

* {{cite journal |url=https://www.jstor.org/stable/27830052 |title=Microcosmus: From Anaximandros to Paracelsus |last=Allers |first=Rudolf |year=1944 |pages=319–407 |ref=harv |volume=2 |author-link=Rudolf Allers |journal=Traditio}}
* {{cite book|title=Nature’s Work of Art: The Human Body as Image of the World|last=Barkan|first=Leonard|publisher=Yale University Press|isbn=9780300016949|ref=harv|author-link=Leonard Barkan|year=1975|location=London/New Haven}}
* {{citar livro|url=https://archive.org/details/dictionaryofhist0000unse_b7a8/page/126|título=Dictionary of the History of Ideas|ultimo=Boas|primeiro=George|editora=Charles Scribner's Sons|ano=1973|editor-sobrenome=Wiener, Philip P.|volume=III|local=Nova Iorque|capitulo=Macrocosm and Microcosm}}
* {{cite book|title=Theories of Macrocosms and Microcosms in the History of Philosophy|last=Conger|first=George Perrigo|publisher=Columbia University Press|isbn=9781290429832|ref=harv|year=1922|location=New York}}
* {{cite book|title=The Origins of Stoic Cosmology|last=Hahm|first=David E.|publisher=Ohio State University Press|isbn=978-0814202531|ref=harv|year=1977|location=Columbus}}
* {{cite encyclopedia |last2=Broydé |first2=Isaac |url=https://www.jewishencyclopedia.com/articles/10798-microcosm |title=Microcosm |publisher=Funk & Wagnalls |year=1906 |editor1-link=Isidore Singer |location=New York |pages=544–545 |ref=harv |volume=8 |editor3-last=Vizetelly |editor3-first=Frank H. |last1=Jacobs |editor2-link=Isaac K. Funk |editor2-first=Isaac K. |first1=Joseph |editor1-first=Isidore |editor1-last=Singer |author2-link=Isaac Broydé |author1-link=Joseph Jacobs |editor2-last=Funk |encyclopedia=Jewish Encyclopedia}}
* {{cite encyclopedia |url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/microcosm |title=Microcosm |publisher=Keter Publishing House |year=2007 |editor1-link=Fred Skolnik |location=Jerusalem |pages=178–179 |isbn=978-0-02-865942-8 |ref=harv |volume=14 |last1=Kraemer |encyclopedia=Encyclopaedia Judaica |first1=Joel |editor2-first=Michael |editor2-last=Berenbaum |editor1-first=Fred |editor1-last=Skolnik |editor2-link=Michael Berenbaum |edition=2}}
* {{cite book|title=L’idée de macrocosmos et de microcosmos dans le ‘Timée’ de Platon: Étude de mythologie comparée|last=Olerud|first=Anders|publisher=Almqvist & Wiksell|ref=harv|year=1951|location=Uppsala|OCLC=680524865}}
* {{cite book|title=L'Ésotérisme shi'ite, ses racines et ses prolongements – Shi'i Esotericism: Its Roots and Developments|last=Krinis|first=Ehud|publisher=Brepols|chapter=The Philosophical and Theosophical Interpretations of the Microcosm-Macrocosm Analogy in Ikhwān al-ṣafā’ and Jewish Medieval Writings|doi=10.1484/M.BEHE-EB.4.01178|ref=harv|editor2-first=Maria|editor1-first=Mohammad Ali|editor2-last=De Cillis|editor4-last=Mir-Kasimov|editor4-first=Orkhan|editor1-last=Amir-Moezzi|location=Turnhout|year=2016|pages=395–409|editor3-last=De Smet|editor3-first=Daniel}}

{{Controle de autoridade}}

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[[Categoria:Filosofia natural]]