Ver código fonte para Demiurgo

{{Deus}}
'''Demiurgo''' (grego, δημιουργός, ''demiourgos'') significa "o que trabalha para o público, artífice, operário manual", ''demios'' significando "do povo" (de ''demos'', povo) e ''-ourgos'', "trabalhador" (de ''ergon'', trabalho.<ref>[http://www.merriam-webster.com/dictionary/demiurge Merriam-Webster - Demiurge] {{en}}</ref>)

No sentido de "trabalhador para o povo", a palavra foi usada em todo o [[Peloponeso]],<ref name="NEVES2012">"Mas "demiurgo" era também o "criador do mundo", "o primeiro magistrado dos estados do Peloponeso"."{{citar livro|autor =ORLANDO NEVES|título=Dicionário da origem das palavras|url=http://books.google.com/books?id=tUB4efBUyikC&pg=PT124|acessodata=26-11-2017|data=27 de fevereiro de 2012|publicado=Leya|isbn=978-989-555-646-5|página=124}}</ref> com exceção de [[Esparta]], e em muitas partes da Grécia, como sinônimo de um alto magistrado.<ref>[http://en.wikisource.org/wiki/1911_Encyclop%C3%A6dia_Britannica/Demiurge 1911 Encyclopædia Britannica/Demiurge] {{en}}</ref> No pensamento [[cosmogonia|cosmogônico]] de [[Platão]], o termo designa o artesão divino — causa da [[anima mundi|alma do mundo]] — que, sem criar de fato o universo, dá forma a uma matéria desorganizada imitando as essências eternas, tendo os deuses inferiores, criados por ele, como tarefa a produção dos seres mortais.<ref name="DurozoiRoussel2005">{{citar livro|autor1 =Gérard Durozoi|autor2 =André Roussel|título=Dicionário de filosofia|url=http://books.google.com/books?id=Sh8bHlea2YIC&pg=PA120|ano=2005|publicado=PAPIRUS|isbn=978-85-308-0227-1|página=120}}</ref> No pensamento gnóstico, o demiurgo, criador do mundo é distinto do Deus supremo e em geral considerado mau,<ref name="DurozoiRoussel2005"/> enquanto que para Platão o demiurgo é bom: "Ele era bom e, naquilo que é bom, nunca surge inveja de nada; e sendo desprovido de inveja, desejou que todos fossem, tanto quanto possível, semelhantes a Ele".<ref>{{Citar web|titulo=Timeu, 29e|url=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus:text:1999.01.0180:text=Tim.:section=29e|obra=www.perseus.tufts.edu|acessodata=2020-01-08|data=|publicado=|ultimo=Platão|primeiro=}}</ref>

==Platonismo e Neoplatonismo==
{{Platonismo}}
{{Artigo principal| prefixo=Ver também|Platonismo|Timeu}}
O uso filosófico e o substantivo próprio derivam do diálogo ''[[Timeu]]'' escrito por [[Platão]] em 360 a.C.,<ref name="Smith2009p69">"O conceito de demiurgo orgina-se na obra ''Timeu'' de Platão, onde é apenas um deus criador(...)"{{citar livro|autor =Andrew Phillip Smith|título=A Dictionary of Gnosticism|url=http://books.google.com/books?id=Kigg-3Aehp8C&pg=PA69|ano=2009|publicado=Quest Books|isbn=978-0-8356-0869-5|página=69}}</ref> a causa do universo,<ref>Platão, ''Timeu'', 29 [https://en.wikisource.org/wiki/Timaeus <nowiki>[wikisource]</nowiki>]</ref> de acordo com a exigência de que tudo que sofre [[Devir|transformação]] ou geração (''genesis'') sofre-a em virtude de uma causa.<ref>Platão, ''Timeu'', 29</ref> Diferente do deus cristão, o demiurgo não cria ''[[Ex nihilo nihil fit|ex nihilo]]''<ref name="Paviani2001">"O demiurgo não cria o mundo a partir do nada." {{citar livro|autor =Jayme Paviani|título=Filosofia e método em Platão|url=http://books.google.com/books?id=EcVtlGf9p5cC&pg=PA141|ano=2001|publicado=EDIPUCRS|isbn=978-85-7430-234-8|página=141}}</ref><ref name="Guénon2003">"Todos os elementos da Criação, nomeadamente as criaturas, estão contidas no  próprio demiurgo e ele não pode, de fato, gerar qualquer coisa sem ser a partir de si mesmo, desde que a criação ''ex nihilo'' é impossível." {{citar livro|autor =René Guénon|título=Miscellanea|url=http://books.google.com/books?id=mggqr1gcbf0C&pg=PA11|data=1/10/2003|publicado=Sophia Perennis|isbn=978-0-900588-55-6|página=11}} {{en}}</ref> mas a partir de um estado preexistente de [[Caos (mitologia)|caos]], tentando fazer seu produto assemelhar-se ao modelo eterno das [[Teoria das ideias|Formas]],<ref>Platão, ''Timeu'', 29, 30</ref> assim a atividade do demiurgo compreende observar as Formas,<ref>Platão, ''Timeu'', 29, 39</ref> desejar que tudo seja o melhor ou mais similar possível ao modelo eterno e perfeito.<ref>Platão, ''Timeu'', 30, 31</ref>

A meta perseguida pelo demiurgo platônico é o bem do universo que ele tenta construir.<ref>Platão, ''Timeu'', 46,68</ref> Este bem é recorrentemente descrito em termos de ordem,<ref>"Tudo que é bom é belo, e o que é belo não é isento de medida", Platão, ''Timeu'', 30, 31</ref> Platão descreve o demiurgo como uma figura neutra (não-[[dualismo|dualista]]), indiferente ao bem ou ao mal,<ref name="Giovanni">"A filosofia patrística (e depois escolástica) carregou a figura do Demiurgo de valências que não existem no texto platônico(...)" {{citar livro|autor =REALE, Giovanni|título=Para uma nova interpretação de Platão|url=http://books.google.com/books?id=OqWLfc2_Y6EC&pg=PA518|publicado=LOYOLA|isbn=978-85-15-01490-3|página=518}}</ref> mas apesar de bom, sofre limitações na coordenação criativa do [[cosmos]] ([[Crença em um Deus não onipotente|não onipotente]]<ref>[https://www.iag.usp.br/sites/default/files/Timeu.pdf TIMEU: a Cosmologia de Platão], acesso em 29/04/2021.</ref>), por isso, só é bom até um ponto, enquanto manter correspondência absoluta ao modelo ideal, assim Platão apela para o princípio de "causa errante", que por natureza produz movimento<ref name="Paviani2001-2">{{citar livro|autor =Jayme Paviani|título=Filosofia e método em Platão|url=http://books.google.com/books?id=EcVtlGf9p5cC&pg=PA141|ano=2001|publicado=EDIPUCRS|isbn=978-85-7430-234-8|página=141}}</ref> e tempo.<ref name="Domingues1996">"Platão, atribui a origem do [[tempo]] à ação do demiurgo, assimila-o ao movimento e nele vê uma espécie de ritmo do eterno(...)" {{citar livro|autor =Ivan Domingues|título=O fio e a trama: reflexões sobre o tempo e a história|url=http://books.google.com/books?id=VgeAfZDi4ZcC&pg=PA119|ano=1996|publicado=Editora Iluminuras Ltda|isbn=978-85-7321-037-8|página=119}}</ref> Platão entende a "carência total de finalismo" (a mera disteleologia), isto é, algo indeterminado, anômalo, casual, a desordem em sentido global. Eis o que significa justamente "causa errante", ou seja, "causa que age ao acaso e de modo anômalo".<ref name="Giovannire">{{citar livro|autor =REALE, Giovanni|título=História da filosofia grega e romana - Platão|url=http://books.google.com/books?id=BvRhFZdaqPMC&pg=PA138|publicado=LOYOLA|isbn=978-85-15-03304-1|página=138}}</ref>

===Médio platonismo===
De acordo com [[Proclo]],<ref>Proclo, ''Comentário em Timeu'', 93</ref> [[Numênio de Apameia|Numênio]] considerou que havia uma espécie de trindade, ou três princípios supremos: o "Primeiro Deus", chamado Pai, O Primeiro, ''[[Nous]]'', [[O Um]] e [[Ideia do Bem|O Bem]], é o ser [[absoluto]], perfeitamente [[Transcendência (religião)|transcendente]] e autônomo. Ele é pai do "Segundo Deus", o Demiurgo que também se chama ''Nous'', ele é igualmente bom, porque compartilha do bem do Primeiro Deus, mas possui uma inclinação a matéria.<ref name="Broek2013">{{citar livro|autor =Roelof van den Broek|título=Gnostic Religion in Antiquity|url=http://books.google.com/books?id=dE1WGYqzbnYC&pg=PA209|data=24/01/2013|publicado=Cambridge University Press|isbn=978-1-107-03137-1|página=209}} {{en}}</ref> Numênio também alegou que as três divindades eram na verdade uma só.<ref name="ReferenceA">God the Creator, God the Creation: Numenius' Interpretation of Genesis 1:2 (frg. 30) por Robbert M. Van Den Berg</ref>

Enquanto os deuses menores do ''Timeu'' de Platão são responsáveis por acrescentar uma alma mortal à alma racional imortal entregues pelo demiurgo, o demiurgo de Numênio é responsável apenas pela encarnação e reencarnação das almas mortais, que são, elas próprias, de origem superior.<ref name="KAHN2007">{{citar livro|autor =CHARLES H. KAHN|título=Pitágoras e os pitagóricos - Uma breve história|url=http://books.google.com/books?id=fV61g-RD1A4C&pg=PA163|ano=2007|publicado=LOYOLA|isbn=978-85-15-03301-0|página=163}}</ref> Numênio considerou ainda um demiurgo [[dualista]], sua parte contemplativa é a [[anima mundi|alma do mundo]] benévola e a parte da criação, porque se preocupa unicamente com a matéria, é a alma do mundo má.<ref name="Tripolitis2002">{{citar livro|autor =Antonía Tripolitis|título=Religions of the Hellenistic Roman Age|url=http://books.google.com/books?id=pj6Pll9qgtIC&pg=PA42|ano=2002|publicado=Wm. B. Eerdmans Publishing|isbn=978-0-8028-4913-7|página=42}} {{en}}</ref>

===Neoplatonismo===
{{Artigo principal| prefixo=Ver também|Neoplatonismo}}
[[Plotino]] não interpreta a criação do mundo através do demiurgo platônico de modo literal, mas ainda assim, uma interpretação figurativa do demiurgo é usada, ele introduz uma separação entre realidade inteligível e realidade sensível.<ref name="Gerson1996">"Ele nunca usa o imaginário do Demiurgo para descrever a mediação enter a [[hipóstase]] e o mundo sensível." {{citar livro|autor =Lloyd P. Gerson|título=The Cambridge Companion to Plotinus|url=http://books.google.com/books?id=QdzrNQG3D2YC&pg=PA339|data=13 de agosto de 1996|publicado=Cambridge University Press|isbn=978-0-521-47676-8|página=339}} {{en}}</ref>

Segundo Proclo, Plotino considerava que o primeiro demiurgo é o que contempla o [[paradigma]], o segundo é o que dispõe o resultado da contemplação em ação, primeiro criando o universo e então o governando. A parte elevada deve ser chamada ''[[Cronos]]'' e parte inferior, a ação, traz o nome de [[Zeus]]. O reino de Cronos e o intelecto de Zeus, juntamente constituem o nível intermediário entre O Um e o universo.<ref>Proclo, ''Comentários sobre Timeu de Platão'', 1.306.24</ref>

[[Jâmblico]] equaliza todo o cosmos a Demiurgo,<ref name="DillonIamblichus1973">{{citar livro|autor1 =John Myles Dillon|autor2 =Iamblichus|título=Fragments of Iamblichus' Commentary on the Timaeus|url=http://books.google.com/books?id=Bc43AAAAIAAJ|ano=1973|publicado=Brill Archive|página=38|id=GGKEY:BWCTUDWS8RU}} {{en}}</ref> concordando com [[Plotino]], ele afirma ainda que apenas o demiurgo contém o ser e o inteligível.<ref name="Edwards2006">{{citar livro|autor =Mark J. Edwards|título=Culture And Philosophy in the Age of Plotinus|url=http://books.google.com/books?id=Kr3WAAAAMAAJ|ano=2006|publicado=Duckworth|isbn=978-0-7156-3563-6|página=55}} {{en}}</ref>

==Gnosticismo==
{{Série Gnosticismo}}
{{Artigo principal| Gnosticismo}}
Os gnósticos acreditavam que o Criador ou demiurgo era uma entidade do mal,<ref name="Carus2008">"Os gnósticos, por regra geral, representam o demiurgo, isto é, o arquiteto do mundo, a que identificam com ''Yahveh'', como o pai de todo o mal. Eles o descrevem como irascível, ciumento e vingativo, contrastante com o deus superior que nada tem a ver com a criação." {{citar livro|autor =Paul Carus|título=The History of the Devil and the Idea of Evil from the Earliest Times to the Present Day|url=http://books.google.com/books?id=Fi0fREiHRM4C&pg=PA167|data=30 de março de 2008|publicado=NuVision Publications, LLC|isbn=978-1-61536-151-9|página=167}} {{en}}</ref> o que contrasta com o conceito platônico<ref name="BURSTEINKEIJZER">{{citar livro|autor1 =DANIEL BURSTEIN|autor2 =ARNE J. DE KEIJZER|título=Verdadeira História de Maria Madalena, A|url=http://books.google.com/books?id=08J1an_1LdMC&pg=PA128|publicado=Ediouro Publicações|isbn=978-85-00-02040-7|página=128}}</ref> Segundo o gnosticismo existe incompatibilidade entre a esfera divina, que é luz, e o universo de nossa experiência, que é terreno e desprovido de sentido, esse dualismo, inspirado por uma visão [[pessimista]] do mundo e de sua história, não é eterno como para os maniqueus, pois o mal só apareceu com a criação, atribuída à ''hìbrys'' de um demiurgo, e há de desaparecer um dia.<ref name="Xavier">{{citar livro|autor =LEON-DUFOUR, Xavier|título=Leitura do Evangelho segundo João - IV|url=http://books.google.com/books?id=GBGQUrvPZNcC&pg=PA229|publicado=LOYOLA|isbn=978-85-15-01649-5|página=229}}</ref>

Em textos gnósticos como no ''Apócrifo de João'' e ''Da origem do Mundo'', demiurgo, o filho de [[Sophia (gnosticismo)|Sophia]] recebe nomes que definem a sua natureza: ''Yaldabaoth'' ("filho dos caos"<ref name="Gieseler1857">"A derivação mais provável do nome “Yaldabaoth” foi dada por Johann Karl Ludwig Gieseler, “Filho do caos” do hebraico ''yalda bahut'', ילדא בהות" {{citar livro|autor =Johann Karl Ludwig Gieseler|título=A Text-book of Church History|url=http://books.google.com/books?id=ixg2AQAAMAAJ&pg=PA136|ano=1857|publicado=Harper & Brothers|página=136}}</ref>), ''Sakla'' (do aramaico, "tolo"),<ref name="Smith2009p216">"No ''Evangelho de Judas'', Saklas é o líder dos anjos que assessoram o demiurgo." {{citar livro|autor =Andrew Phillip Smith|título=A Dictionary of Gnosticism|url=http://books.google.com/books?id=Kigg-3Aehp8C&pg=PA216|ano=2009|publicado=Quest Books|isbn=978-0-8356-0869-5|página=216}} {{en}}</ref> ''Samael'' ("deus cego")<ref name="Smith2009p217">"Samael ("Deus da cegueira") é identificado com Sakla, no apócrifo ''[[Hipóstase dos Arcontes]]'',ele toma o lugar do deus hebraico na história do Jardim do Éden" {{citar livro|autor =Andrew Phillip Smith|título=A Dictionary of Gnosticism|url=http://books.google.com/books?id=Kigg-3Aehp8C&pg=PA216|ano=2009|publicado=Quest Books|isbn=978-0-8356-0869-5|página=217}} {{en}}</ref> ou ainda ''Nebruel'' (ou ''Nebro'').<ref name="Meyer">{{citar livro|autor =Marvin Meyer|título=Mistérios Gnósticos|url=http://books.google.com/books?id=_p3-mwIckqMC&pg=PA100|publicado=Editora Pensamento|isbn=978-85-315-1508-8|página=100}}</ref> É ainda no [[Apócrifo de João]] que descrevem o demiurgo Yaldabaoth com um ser que tem o rosto que se assemelha a um leão.<ref name="Meyer" />

No apócrifo ''[[Hipóstase dos Arcontes]]'', Yaldabaoth e Sabaoth são entidades diferentes, esta última seria o filho do primeiro mas mesmo nessa versão Sabaoth tem função semelhantes, seu trono é uma imensa carruagem de querubins rodeada por anjos ministeriais. O nome Yaldabaoth exercitou a ingenuidade dos estudiosos por um bom tempo, este arconte foi igualado a ''Yahweh'' ([[Javé]]) do [[Antigo Testamento]],<ref name="Costa2002a">{{citar livro|url=http://books.google.com/books?id=rBpKnUpb1xYC&pg=PA27|título=''Salvatoris disciplina'': Dionísio de Roma e a ''Regula Fidei'' no debate teológico do III século|autor=COSTA|primeiro=Paulo Cezar|editora=Editrice Pontificia Università Gregoriana|ano=2002|series=Serie Teologia, 81|local=Roma|página=27|páginas=|isbn=978-88-7652-911-5|citacao=O demiurgo dos diversos sistemas gnósticos é identificado com o deus do Antigo Testamento e contraposto ao verdadeiro Deus, pai de tudo, o Deus agnostos.|acessodata=|publicado=}}</ref><ref name="Xavierh">"Segundo certos relatos, o demiurgo autor da criação é o deus dos hebreus, do qual a Bíblia diz que é "um deus ciumento" ({{Citar bíblia|Êxodo|20|5}})." {{citar livro|autor =LEON-DUFOUR, Xavier|título=Leitura do Evangelho segundo João - IV|url=http://books.google.com/books?id=GBGQUrvPZNcC&pg=PA229|publicado=LOYOLA|isbn=978-85-15-01649-5|página=229}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Great Angel: A Study of Israel's Second God|url=http://books.google.com/books?id=y63GE5Tw3KMC&pg=PA174|ano=1992|publicado=Westminster John Knox Press|isbn=978-0-664-25395-0|página=174}}</ref> mas não há indícios no hebraico para tal significado.<ref name="Metzger2002">{{citar livro|url=http://books.google.com/books?id=VJPsValvExkC&pg=PA233|título=Dicionário da Bíblia: as pessoas e os lugares|autor=METZGER|primeiro=Bruce Manning|ultimo2=COOGAN|primeiro2=Michael David|editora=|outros=Traduzido por Maria Luiza Xavier de Almeida Borges|ano=2002|editor-sobrenome=ZAHAR|editor-nome=Jorge|editor-link=Jorge Zahar|volume=1|local=Rio de Janeiro|página=233|páginas=|isbn=978-85-7110-690-1|citacao=Alguns sustentam que Sabaoth é um epíteto em aposição a Javé e que significa algo como "o poderoso", mas não há indícios no hebraico para tal significado.|acessodata=}}</ref>

No ''Sistema de Ptolomeu'' de [[Valentim (gnóstico)|Valentim]], o demiurgo é descrito como um anjo, semelhante a deus, que elevou-se até o [[Ogdóade|sétimo céu]] que circunda a terra, acima deste está o oitavo céu e acima dele o Deus Supremo, que fica completamente distante do mundo. Anjo guardião da esfera inferior, o demiurgo foi designado como o criador do mundo, o chefe dos [[arconte]]s pelos quais ''Achamoth'', a mãe, deu à luz (''Ogdôada''). Por trás do demiurgo, há uma reunião de forças subordinadas, os arcontes, que são seus colaboradores.<ref name="Harris1999">{{citar livro|autor =John Glyndwr Harris|título=Gnosticism: beliefs and practices|url=http://books.google.com/books?id=Kc7ZhopsbOsC&pg=PA108|ano=1999|publicado=Sussex Academic Press|isbn=978-1-902210-07-0|página=108}} {{ref}}</ref> A teoria Valentiniana elabora que da ''Achamoth'' (''he káta sophía'' ou sabedoria menor), originaram-se três tipos de substâncias, o espiritual (''pneumatikoi''), o animal (''psychikoi'') e o material (''hylikoi''). O Demiurgo pertence ao segundo tipo, por ele ser fruto da união da ''Achamoth''com a matéria.<ref>[[Irineu]], ''Contra Heresias'', i. 5.</ref>

A descrição do demiurgo, pelos [[setianismo|setianistas]] é ainda mais negativa do que no sistema valentiano e seu ''status'' é inferior ao do Deus Supremo, como citado no ''[[Evangelho de Filipe]]'', mas ele alcançou o status de criador dos arcontes e do mundo natural,<ref name="Harris1999" /> tornando-se arrogante disse "Eu sou o Pai, e acima de mim não há nenhum outro",<ref>[[Evangelho de Filipe]]</ref> (como em {{Citar bíblia|Isaías|45|5}} e {{Citar bíblia|Isaías|46|9}}), de acordo com o Apócrifo de João, uma voz divina, ultrajada com a reivindicação arrogante de Yaldabaoth, dá a resposta e o refuta, a voz ressoa: "A humanidade existe, assim como o filho da humanidade".<ref>[[Apócrifo de João]], II, 14</ref>

[[Marcião de Sinope|Marcião]] contrapunha o deus do Antigo Testamento ao deus de [[Jesus Cristo]], para ele a criação era obra de um deus maligno, o Demiurgo, apresentado na Bíblia judaica. Segundo Marcião, o Pai de Jesus não tinha nada em comum com o Deus judaico do juízo e da guerra, o deus do Antigo Testamento, juiz potente, justo, colérico, cruel, mesquinho, capaz de afirmar: {{Citar bíblia |Isaías|45|7|citação = Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz, e crio o mal; eu sou Jeová que faço todas estas coisas.}}, esse deus não poderia ser o mesmo pai de Jesus Cristo.<ref name="Costa2002b">{{citar livro|url=http://books.google.com/books?id=rBpKnUpb1xYC&pg=PA28|título=''Salvatoris disciplina'': Dionísio de Roma e a ''Regula Fidei'' no debate teológico do III século|autor=COSTA|primeiro=Paulo Cezar|editora=Editrice Pontificia Università Gregoriana|ano=2002|series=Serie Teologia, 81|local=Roma|página=28|isbn=978-88-7652-911-5|citacao=O Deus do A.T. era juiz potente, justo, colérico, cruel, mesquinho, capaz de afirmar: «sou eu que provoco a desgraça» (Is 45,7). Este Deus não poderia ser o mesmo pai de Jesus Cristo.|acessodata=29 de agosto de 2017}}</ref> Coerente ao seu pensamento, Marcião não só rejeitou a Bíblia judaica como Escritura Sagrada, na luta pela mensagem pura, mas também os escritos neotestamentários em que predomina a tradição judaica.<ref name="Erich">{{citar livro|autor =ZENGER, Erich|título=Introdução ao Antigo Testamento|url=http://books.google.com/books?id=Ya6BqNNo3LYC&pg=PA17|publicado=LOYOLA|isbn=978-85-15-02328-8|página=17}}</ref>

{{Referências|col=3}}
* {{SmithDGRBM}}

== Ligações externas ==

* [https://www.newadvent.org/cathen/04707b.htm Catholic Encyclopedia: Demiurge]
{{Deus2}}
{{Portal3|Religião|Filosofia}}

[[Categoria:Concepções de Deus]]
[[Categoria:Filosofia]]
[[Categoria:Personagens gnósticos]]
[[Categoria:Teísmo finito]]